
As leituras do XXVII Domingo do Tempo Comum apresentam como tema principal, o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher: formar uma comunidade de amor, estável e indissolúvel, que os ajude mutuamente a realizarem-se e a serem felizes. Esse amor, feito doação e entrega, será para o mundo um reflexo do amor de Deus.
A primeira leitura diz-nos que Deus criou o homem e a mulher para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão “uma só carne”. Ser “uma só carne” implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo.
No Evangelho, Jesus, confrontado com a Lei judaica do divórcio, reafirma o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher: eles foram chamados a formar uma comunidade estável e indissolúvel de amor, de partilha e de doação. A separação não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher.
A segunda leitura lembra-nos a “qualidade” do amor de Deus pelos homens… Deus amou de tal forma os homens que enviou ao mundo o seu Filho único “em proveito de todos”. Jesus, o Filho, solidarizou-Se com os homens, partilhou a debilidade dos homens e, cumprindo o projeto do Pai, aceitou morrer na cruz para dizer aos homens que a vida verdadeira está no amor que se dá até as últimas consequências. Ligando o texto da Carta aos Hebreus com o tema principal da liturgia deste domingo, podemos dizer que o casal cristão deve testemunhar, com a sua doação sem limites e com a sua entrega total, o amor de Deus pela humanidade.
Leituras
18O Senhor Deus disse:
‘Não é bom que o homem esteja só.
Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele’.
19Então o Senhor Deus formou da terra
todos os animais selvagens e todas as aves do céu,
e trouxe-os a Adão para ver como os chamaria;
todo o ser vivo teria o nome que Adão lhe desse.
20E Adão deu nome a todos os animais domésticos,
a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens;
mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele.
21Então o Senhor Deus fez cair
um sono profundo sobre Adão.
Quando este adormeceu,
tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne.
22Depois, da costela tirada de Adão,
o Senhor Deus formou a mulher
e conduziu-a a Adão.
23E Adão exclamou:
‘Desta vez, sim, é osso dos meus ossos
e carne da minha carne!
Ela será chamada ‘mulher’
porque foi tirada do homem’.
24Por isso, o homem deixará
seu pai e sua mãe
e se unirá à sua mulher,
e eles serão uma só carne.
Palavra do Senhor.
R.O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.
1Feliz és tu se temes o Senhor*
e trilhas seus caminhos!
2Do trabalho de tuas mãos hás de viver,*
serás feliz, tudo irá bem!R.
3A tua esposa é uma videira bem fecunda*
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira*
ao redor de tua mesa.R.
4Será assim abençoado todo homem*
que teme o Senhor.
5O Senhor te abençoe de Sião,
cada dia de tua vida,*
para que vejas prosperar Jerusalém,R.
6E os filhos dos teus filhos.
 Senhor, que venha a paz a Israel,*
que venha a paz ao vosso povo!R.
Irmãos:
9Jesus, a quem Deus fez pouco menor do que os anjos,
nós o vemos coroado de glória e honra,
por ter sofrido a morte.
Sim, pela graça de Deus em favor de todos,
ele provou a morte.
10Convinha de fato que aquele,
por quem e para quem todas as coisas existem,
e que desejou conduzir muitos filhos à glória,
levasse o iniciador da salvação deles à consumação,
por meio de sofrimentos.
11Pois tanto Jesus, o Santificador,
quanto os santificados,
são descendentes do mesmo ancestral;
por esta razão,
ele não se envergonha de os chamar irmãos.
Palavra do Senhor.
Naquele tempo:
2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus.
Para pô-lo à prova,
perguntaram se era permitido ao homem
divorciar-se de sua mulher.
3Jesus perguntou:
‘O que Moisés vos ordenou?’
4Os fariseus responderam:
‘Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio
e despedi-la’.
5Jesus então disse:
‘Foi por causa da dureza do vosso coração
que Moisés vos escreveu este mandamento.
6No entanto, desde o começo da criação,
Deus os fez homem e mulher.
7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe
e os dois serão uma só carne.
8Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!’
10Em casa, os discípulos fizeram, novamente,
perguntas sobre o mesmo assunto.
11Jesus respondeu:
‘Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra,
cometerá adultério contra a primeira.
12E se a mulher se divorciar de seu marido
e casar com outro, cometerá adultério’.
13Depois disso, traziam crianças
para que Jesus as tocasse.
Mas os discípulos as repreendiam.
14Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse:
‘Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais,
porque o Reino de Deus é dos que são como elas.
15Em verdade vos digo:
quem não receber o Reino de Deus como uma criança,
não entrará nele’.
16Ele abraçava as crianças
e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
Palavra da Salvação.
Fonte: Liturgia Diária – CNBB
Reflexão
TRATA-A COMO A TUA PRÓPRIA CARNE!

A primeira leitura lembra o que foi o começo de todas as coisas. Ele conta isso de uma maneira romântica. Talvez não tenha sido exatamente assim, mas a coisa mais importante está reunida nessa história: HOMEM E MULHER SE CONHECERAM E SE RECONHECERAM. O olhar não parou nos olhos. Chegou ao coração. Então começou uma história que dura até hoje. Ambos se sentiram chamados a formar uma só carne, não apenas para procriar, mas, além disso, para viver unidos no amor e assim se tornar um sinal do amor com o qual Deus nos ama.
Mas a realidade nem sempre foi assim ao longo da história. A realidade é que o homem maltratou as mulheres muitas vezes. Durante séculos, o homem não considerou as mulheres como iguais. No máximo, uma parceira de cama, mas não alguém digno de ser colocado no mesmo nível, com quem pudesse falar. O homem se sentiu dominante e viu a mulher como um de seus pertences, um dos seus objetos à sua disposição. Em nossos dias, há muitos homens que ainda tratam as mulheres como objetos de prazer ou como escravas que devem limpar a casa e preparar a comida, mas que não devem ser deixadas para decidir, pensar ou tomar decisões por si mesmas. Isso acontece em muitos países, mas também no nosso. Os maus-tratos, os abusos, as violações, os assassinatos são sinais dessa realidade. Há muito sofrimento, às vezes quieto e silencioso, mas sempre ocorrem, nas mulheres de muitas famílias.
Jesus nos convida em seu evangelho a voltar para a mesma criação. Para perceber que a princípio não foi assim. Deus criou homens e mulheres iguais. Eles são carne da mesma carne. É por isso que uma mulher não pode ser outra possessão do homem como um carro ou uma casa. Na primeira leitura, ouvimos como o homem recebe a ordem de Deus para nomear os animais. E ele faz, mas ele percebe que eles não estão no seu nível. Eles são animais, não pessoas. É quando encontra a mulher, formada de si mesmo, quando ele diz: é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne! Nas mulheres, os homens se reconhecem e nos homens as mulheres se reconhecem. Ambos precisam um do outro para ter filhos, mas também para serem felizes, para viverem na plenitude do amor para o qual Deus nos chamou.
Hoje há tantos divórcios, que a família parece estar em crise, Jesus nos convida a voltar ao começo, a redescobrir a vontade original de Deus e tentar torná-la uma realidade em cada uma de nossas famílias. Desta forma, cada casamento, cada família, se tornará um sinal do amor com o qual Deus nos ama a todos, um núcleo onde a vida é recriada diariamente no amor.
Como tarefa, para aprofundamento responda:
- Você conhece casos de violência familiar perto de você? O que você fez para tentar ajudar esses casais a se respeitarem mutuamente?
- Em sua casa, você trata o marido e a esposa com respeito e com o devido amor?
- Você é um sinal do amor de Deus para quem te vê?
Texto: FERNANDO TORRES, CMF
Imagem: PIXABAY
Fonte: Ciudadredonda