Neste XXIX Domingo do Tempo Comum (20 de outubro) celebramos o Dia Mundial das Missões, refletindo sobre a nossa vocação como testemunhas de Cristo, guiados pelo tema “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo” e o lema “IDE, CONVIDAI A TODOS PARA O BANQUETE“.
A liturgia deste domingo nos convida a pensar sobre o verdadeiro sentido da vida, que não se encontra em projetos de poder e grandeza, mas no amor e no serviço aos outros.
A Primeira Leitura (Is 53,10-11) nos apresenta a figura do “servo de Deus”, que, apesar do sofrimento e desprezo, foi exaltado e glorificado por Deus. Este servo, que muitos associam ao próprio Cristo, ensina que uma vida de humildade, sacrifício e doação não é uma vida fracassada aos olhos de Deus. Pelo contrário, é uma vida plena, fecunda e capaz de trazer esperança e libertação ao mundo. Isso nos lembra que, mesmo em meio ao sofrimento, nossa missão é perseverar no serviço aos outros, porque é nesse caminho que encontramos a verdadeira realização.
O Evangelho (Mc 10,35-45) também aborda essa ideia ao relatar a conversa de Jesus com Tiago e João. Eles buscavam posições de destaque, sonhando com honrarias e poder, mas Jesus lhes mostra que a grandeza verdadeira não está no status, mas no serviço. Ele os ensina que a verdadeira realização está no dom da vida e na entrega aos irmãos de forma humilde e simples. Jesus é o maior exemplo disso, pois veio para servir e não para ser servido, e nos chama a seguir o mesmo caminho.
A Segunda Leitura (Hb 4,14-16), tirada da Carta aos Hebreus, nos apresenta Jesus como o sumo-sacerdote misericordioso, que após oferecer sua vida em sacrifício, se colocou diante de Deus para interceder pela humanidade. Sua entrega e sacrifício nos alcançam a misericórdia divina, e a nossa resposta a essa ação salvadora deve ser uma adesão completa ao seu projeto de amor e serviço. A mensagem central é clara: assim como Jesus se entregou por nós, somos chamados a nos doar pelos outros, especialmente pelos mais necessitados, sem buscar reconhecimento ou recompensas.
Neste Dia Mundial das Missões, a liturgia nos desafia a ser luzes no mundo, testemunhas de Cristo através do serviço. Ser missionário é, antes de tudo, sair de si mesmo, ir ao encontro dos outros e convidá-los para o banquete do Reino, onde reinam o amor, a justiça e a paz. Este chamado é urgente em um mundo marcado pela indiferença e pelo individualismo. Somos chamados a levar esperança, a agir com misericórdia e a ser instrumentos de transformação.
Que a força do Espírito nos guie nessa missão de testemunhar o amor de Cristo através de nossas ações, fazendo de cada gesto um convite para todos experimentarem a alegria do Reino de Deus. Assim, nossa vida se tornará verdadeiramente significativa, refletindo a luz de Cristo no mundo.
Leituras
Ao oferecer sua vida em expiação, ele gera uma descendência eterna, cumprindo sua missão. Seu sacrifício transforma a dor em esperança, revelando que o amor gera uma herança que perdura.
ele terá descendência duradoura,
e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor.
Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens,
carregando sobre si suas culpas.
Palavra do Senhor.
Que a graça do Senhor nos envolva e renove nossa confiança, pois em Vós depositamos nossa esperança. Guiados por Vossa misericórdia, encontramos refúgio e alento, certos de que Vossa presença nunca nos abandona.
R. Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
pois, em vós, nós esperamos!
4 Pois reta é a palavra do Senhor,*
e tudo o que ele faz merece fé.
5 Deus ama o direito e a justiça,*
transborda em toda a terra a sua graça. R.
18 Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,*
e que confiam esperando em seu amor,
19 para da morte libertar as suas vidas*
e alimentá-los quando é tempo de penúria. R.
20 No Senhor nós esperamos confiantes,*
porque ele é nosso auxílio e proteção!
22 Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,*
da mesma forma que em vós nós esperamos! R.
Aproximemo-nos com confiança ao trono da graça, onde Deus nos acolhe, transformando nossas fraquezas em força e renovando nossa coragem em Seu amor.
Jesus, o Filho de Deus.
Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos.
pois ele mesmo foi provado em tudo como nós,
com exceção do pecado.
para conseguirmos misericórdia
e alcançarmos a graça de um auxílio
Palavra do Senhor.
O Filho do Homem, em um gesto de puro amor, entregou Sua vida como resgate por muitos, revelando a grandeza de um coração que se dá sem reservas. Sua entrega ilumina nosso caminho hoje, convidando-nos a viver com generosidade e compaixão, sabendo que, em cada ato de serviço e sacrifício, participamos dessa mesma redenção que nos liberta e nos chama à verdadeira vida.
“Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”.
à tua direita e outro à tua esquerda,
quando estiveres na tua glória!”
Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?
Podeis ser batizados com o batismo
com que vou ser batizado?”
“Vós bebereis o cálice que eu devo beber,
e sereis batizados com o batismo
com que eu devo ser batizado.
É para aqueles a quem foi reservado”.
e os grandes as tiranizam.
e dar a sua vida como resgate para muitos”.
Palavra da Salvação.
Homilia
O SERVIÇO QUE RESTAURA E EMBELEZA
Neste vigésimo nono domingo, refletimos sobre as palavras de Jesus no Evangelho. Ele se autodenomina “Filho do Homem” e afirma: “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.”
A homilia se divide em três partes principais:
- Jesus se identifica como o “Filho do Homem” – uma escolha significativa que liga sua missão à profecia de Daniel, mostrando que Ele é tanto divino quanto humano.
- Uma Identificação Inusitada – o Filho de Deus se apresenta como o “Filho do Homem”, destacando seu papel de servo. Isso desafia nossas noções de poder e liderança.
- O Filho do Homem para Servir – Jesus veio para servir e dar sua vida, estabelecendo o reino dos céus através do sacrifício e serviço. Seu exemplo nos chama a viver servindo aos outros com humildade e dedicação.
JESUS SE IDENTIFICA COMO O “FILHO DO HOMEM”
Jesus frequentemente se refere a si mesmo como “Filho do Homem“, uma expressão que revela tanto sua divindade quanto sua plena humanidade. Embora na Igreja preferimos títulos como “Cristo”, “Filho de Deus” ou “Rei”, é essencial resgatar a contemplação de Jesus como o “Filho do Homem“. Ao usar essa expressão, Ele nos lembra que, além de glorioso, Ele compartilha nossas dores, cansaços e fragilidades. Jesus, que não tinha onde repousar a cabeça, experimentou a vida como nós, conhecendo a rejeição, o sofrimento e, por fim, a vitória na ressurreição.
Em nossa vida, buscamos frequentemente o Cristo glorioso, mas devemos também reconhecer o Jesus humano, aquele que está presente em nossas lutas diárias. Ele nos ensina que a verdadeira grandeza está no serviço e no sacrifício. Ao chamar-se “Filho do Homem“, Jesus nos convida a abraçar nossa humanidade, enfrentando os desafios com coragem e fé, sabendo que Ele caminha ao nosso lado.
Resgatar essa visão de Jesus é lembrar que Ele não apenas nos salva, mas nos compreende profundamente. O “Filho do Homem” é aquele que viveu as mesmas dores e desafios que nós, e, por isso, podemos nos aproximar d’Ele com confiança. Contemplar Jesus sob esse título é aceitar a cruz e a ressurreição, o sofrimento e a esperança, confiando na redenção que Ele nos oferece.
UMA IDENTIFICAÇÃO INUSITADA
O conceito de “Filho do Homem” vem do profeta Daniel, que o descreve como uma figura apocalíptica que intervém na luta contra o mal, recebendo poder para derrotar os impérios opressores e inaugurando uma era de liberdade e paz. Jesus se identifica com essa figura, mas redefine seu significado por meio da humildade, serviço e não-violência.
Enquanto os poderes do mundo, representados por impérios tirânicos, agem com arrogância, o Filho do Homem opta pela humildade e se identifica com os marginalizados. Sua missão é servir: Ele lava os pés de seus discípulos e oferece sua vida como alimento para muitos. Essa abordagem transforma a ideia de grandeza, mostrando que o verdadeiro poder reside na capacidade de se doar.
Jesus nos ensina que, ao invés de buscar o poder terreno, devemos servir com amor. Os governantes deste mundo muitas vezes associam grandeza à força, mas Jesus revela que a verdadeira força está em pequenos atos de serviço. Sua missão é um convite a repensar nossas noções de sucesso e poder.
Refletir sobre o Filho do Homem nos dias de hoje nos desafia a seguir seu exemplo, escolhendo a humildade e o serviço em um mundo que valoriza o domínio e o ego. Ele nos convida a encontrar verdadeira liberdade e paz não na conquista, mas no amor que se entrega, transformando o mundo pelo poder do serviço e do sacrifício.
O FILHO DO HOMEM PARA SERVIR
O tempo de Jesus foi marcado por um profundo compromisso com o serviço, refletido em quatro características essenciais:
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- Pessoal: Jesus atende a cada indivíduo de forma única, valorizando a dignidade humana. Seus encontros autênticos com marginalizados, como a mulher samaritana, mostram que seu serviço é uma conexão genuína.
- Estético: A beleza de seus gestos seduz aqueles que Ele serve, dignificando-os e trazendo paz. O milagre da multiplicação dos pães e peixes exemplifica como suas ações alimentam não só o corpo, mas também a alma.
- Terapêutico: O amor em seu serviço tem um poder curativo, elevando os abatidos e promovendo felicidade. Ao curar leprosos e perdoar pecadores, Jesus restaura a esperança e a dignidade das pessoas, reintegrando-as à comunidade.
- Ecológico: Cada pequeno ato de serviço ressoa na rede social, promovendo vitalidade e renovação. Nossas ações, mesmo as mais simples, podem impactar a comunidade, criando um efeito dominó de amor e solidariedade.
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O serviço do Filho do Homem transforma o mundo em símbolos da glória divina que embelezam a humanidade. A ambição de ser o primeiro nos torna bestiais, enquanto o serviço humilde nos aproxima de Jesus. Cada pessoa merece nosso cuidado, e ao servirmos, embelezamos nossa comunidade e contribuímos para nossa salvação. Assim, somos convidados a refletir: como podemos nos engajar mais no serviço ao próximo e seguir o exemplo de amor que Jesus nos deixou?
CONCLUSÃO
A reflexão sobre Jesus como o “Filho do Homem” revela sua profunda conexão com a humanidade, compartilhando nossas lutas e fragilidades. Essa identificação não só destaca sua divindade, mas também nos ensina que a verdadeira grandeza está no serviço e no amor ao próximo. Em uma sociedade que frequentemente valoriza poder e status, Jesus nos convida a reavaliar nossas prioridades, enfatizando que pequenas ações de bondade têm o potencial de transformar vidas.
O “Filho do Homem” exemplifica humildade e nos mostra que devemos nos esforçar para acolher os marginalizados e atender às necessidades dos outros. Cada gesto de amor, por mais simples que pareça, contribui para uma mudança significativa em nossa comunidade.
Contemplar Jesus sob essa luz é um chamado à ação e um convite para sermos agentes de amor e paz em um mundo carente de compaixão. À medida que seguimos seu exemplo, somos desafiados a viver com propósito renovado, onde servir ao próximo se torna uma expressão genuína da fé. Que possamos abraçar essa mensagem e nos comprometer a agir como verdadeiros discípulos do “Filho do Homem“, promovendo transformação e esperança em nossas vidas e comunidades.
ORAÇÃO CONCLUSIVA
Jesus, filho do homem!
Você vem do céu… aparece misteriosamente ao lado do Ancião dos Dias para julgar o mundo e suplantar os poderes malignos que nos oprimem.
Filho do homem!
Você nos pertence… você é filho da nossa humanidade através de Maria.
Você veio até nós não como um deus distante, mas como um homem, representante de todos sem exclusões.
Você nos revela sua identidade humana e nos mostra que está entre nós não como o Grande, mas como alguém que serve.
Você vem lavar nossos pés, curar nossas feridas e nos abrir as portas da Vida.
Amém
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU