mensagem da liturgia deste XII Domingo Comum nos oferece uma profunda reflexão sobre a presença constante e amorosa de Deus em nossas vidas, especialmente nos momentos de crise e sofrimento. Ela nos lembra que, apesar das adversidades, Deus nunca nos abandona e está sempre ao nosso lado, amparando-nos com um amor fiel e vigilante.
Na Primeira Leitura (Jó 38,1.8-11), Deus se manifesta a Jó em meio à tempestade, revelando-Se como o Senhor que tem poder sobre o mar e todos os elementos da criação. Esta passagem destaca a majestade de Deus e o Seu controle absoluto sobre o universo. A mensagem aqui é clara: Deus, que conhece todos os segredos da criação, cuida de todos os seres com um amor paternal e maternal. Jó, em sua aflição, é convidado a confiar na sabedoria e no amor divino, entregando-se humildemente nas mãos de Deus.
O Evangelho (Mc 4,35-41) nos traz a narrativa da tempestade acalmada, onde Jesus, junto com Seus discípulos, atravessa o mar da Galileia. Durante a travessia, uma grande tempestade se levanta e os discípulos, apavorados, acordam Jesus, que dormia na popa do barco. Jesus, com autoridade, acalma o vento e o mar, questionando a falta de fé dos discípulos. Este episódio é uma catequese sobre a presença tranquilizadora de Jesus em nossas vidas. Com Ele no barco, isto é, com Jesus presente em nossa jornada de fé, somos capazes de enfrentar todas as tempestades da vida. A confiança em Jesus nos dá a certeza de que, independentemente das adversidades, estamos navegando em direção ao porto seguro da Vida verdadeira.
Na Segunda Leitura (2Cor 5,14-17), Paulo reflete sobre o amor de Cristo manifestado em Sua morte e ressurreição. Ele nos exorta a viver não mais para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós. A entrega total de Jesus ao projeto do Pai é um chamado para nós vivermos uma vida nova, transformada pelo amor. Paulo nos convida a testemunhar este amor, vivendo como novas criaturas, libertas do egoísmo que nos aprisiona e destrói. A cruz de Cristo é o símbolo supremo do amor que nos renova e nos chama a viver em comunhão com Deus e com os outros.
A liturgia deste domingo nos lembra que Deus está sempre presente em nossas vidas, especialmente nos momentos difíceis. Ele nos convida a confiar plenamente em Seu amor e a entregar nossas preocupações em Suas mãos. A presença de Jesus nos dá a coragem e a força para enfrentar as tempestades da vida com serenidade e fé, sabendo que Ele nos conduz ao porto seguro da vida eterna. Que possamos, à luz dessas leituras, renovar nossa confiança em Deus e viver de acordo com o Seu amor, testemunhando a Boa Nova de Jesus Cristo em nossas vidas diárias.
Leituras
“Aqui cessa a arrogância de tuas ondas” nos lembra de reconhecer nossos limites
e enfrentar desafios com humildade e equilíbrio.
Palavra do Senhor.
“Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom. Porque eterna é a sua misericórdia!”
nos lembra de confiar na misericórdia divina e agradecer pelas bênçãos,
mesmo nas tempestades da vida.
R. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!
23 Os que sulcam o alto-mar com seus navios, *
para ir comerciar nas grandes águas,
24 testemunharam os prodígios do Senhor *
e as suas maravilhas no alto-mar. R.
25 Ele ordenou, e levantou-se o furacão, *
arremessando grandes ondas para o alto;
26 aos céus subiam e desciam aos abismos, *
seus corações desfaleciam de pavor. R.
28 Mas gritaram ao Senhor na aflição, *
e ele os libertou daquela angústia.
29 Transformou a tempestade em bonança, *
e as ondas do oceano se calaram. R.
30 Alegraram-se ao ver o mar tranquilo, *
e ao porto desejado os conduziu.
31 Agradeçam ao Senhor por seu amor *
e por suas maravilhas entre os homens! R.
O amor de Cristo nos impulsiona a viver não mais para nós mesmos,
mas para Ele, que morreu e ressuscitou por nós.
e que, logo, todos morreram.
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
E, se uma vez conhecemos Cristo segundo a carne,
agora já não o conhecemos assim.
O mundo velho desapareceu.
Tudo agora é novo.
Palavra do Senhor.
“Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” nos lembra que, mesmo nas adversidades, podemos encontrar força e confiança em Jesus, que tem
o poder de acalmar as tormentas.
“Vamos para a outra margem!”
assim como estava, na barca.
Havia ainda outras barcas com ele.
de modo que a barca já começava a se encher.
Os discípulos o acordaram e disseram:
“Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”
O ventou cessou e houve uma grande calmaria.
Ainda não tendes fé?”
“Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
Palavra da Salvação.
Homilia
NO MEIO DA TEMPESTADE
Nas leituras de hoje podemos ver que Jesus não gosta dos barcos parados, atracados. Ele não gosta de portos. Também não gosta de ficar sempre no mesmo lugar. Ele está interessado na outra margem, as periferias existenciais. E ele empurra seus discípulos para o mar.
Quando começamos um projeto, uma empresa, um relacionamento, um caminho de oração, uma comunidade cristã, alguns estudos, um programa de formação na fé… Somos bons em “entrar no barco”…
Muitas vezes ficamos atracados no porto contemplando o mar, as gaivotas, o céu e o horizonte… Ou talvez entremos no barco, mas prontos para saltar para o continente assim que as ondas se agitarem um pouco ou o vento nos atingir no rosto. No entanto, a palavra do Senhor Jesus soou muito clara hoje: PASSEMOS PARA A OUTRA MARGEM!
Sentimo-nos calmos e seguros quando pensamos que estamos no controle da situação. Quando conhecemos o barco e o manejamos com facilidade e segurança. E então tentamos administrar por conta própria, com nossos próprios recursos. Preferimos não ter que contar com ninguém, não pedir ajuda. Nem para o Senhor…
Os discípulos, pescadores experientes do lago, são os que manejam o barco. Já navegaram muitas vezes, “já sabem”. Dá-lhes tranquilidade ver que existem outros barcos por perto, fazendo o mesmo que eles. Eles certamente se sentem calmos porque têm Jesus a bordo. “Não vamos sozinhos”, dizem a si mesmos. E como não precisam dele (o que ele vai nos dizer!), o Mestre não se preocupa, adormece. Ele vai com eles no barco. Mas… é como se não fosse.
O fato é que, em cada mar (em cada projeto, em cada viagem…), a tempestade é sempre possível. E as ondas agitaram-se, o sol escureceu, o vento os sacudiu… por dentro também! Mas já que deixamos o Senhor adormecer… agora não ousamos acordá-lo!
O Senhor geralmente embarca conosco porque ele quer nos levar mais longe:
Quando você se casou na Igreja, aceitou embarcar. Quando você foi batizado, confirmado, subiu a bordo.
Quando você começou seus estudos ou seu trabalho profissional… Ele queria viajar com você.
Cada vez que você pede perdão a ele e se reconhece como um pecador, você o está convidando a voltar a bordo.
Quando você se reúne com outras pessoas para construir a comunidade cristã, ele já está no convés há muito tempo.
Cada vez que você se aproxima dele em oração e diz “aqui estou, o que você quer de mim?”, ele quer que você vá além do que pensa.
Quando você quer amar e servir com ele e se entregar completamente, é porque ele está a bordo.
Mas se não o tivermos, se não perguntarmos nada, se ele não fizer parte dos nossos planos… Bem, ele vai adormecer.
E então, nervosos e assustados, clamamos por ele: “Mestre. Você não se importa se morrermos? Você não se importa se afundarmos?” Nós até o culpamos. O barco foi carregado por nós, tínhamos esquecido, e agora…
Ele é o culpado por termos entrado na tempestade e por nosso medo! Faça alguma coisa, acalme a tempestade! Não foi você quem nos disse para irmos para a outra margem? Se tivéssemos ficado no cais, a salvo, sem nos arriscarmos…
Para surpresa dos discípulos, é ele quem os censura: “Mas, vejamos: não estou contigo no barco? Confie! Por que você não confia? VOCÊ NÃO TEM FÉ?” (O oposto da fé é… o medo).
Algo que podemos aprender com essa cena evangélica é que tê-lo em nosso barco não significa que estejamos seguros “apesar da tempestade”, mas que tudo vai bem ‘no meio’ da tempestade, que só se atinge a outra margem conquistando as tempestades. Não podemos ficar onde estamos, na comodidade, no já conhecido…
Como São Paulo nos disse hoje: “Quem vive com Cristo é uma nova criatura. O velho passou, o novo chegou”.
Ter fé, portanto, não significa presumir que ele acalmará todas as tempestades. Ter fé significa confiar que no meio da tempestade ELE IRÁ COMIGO.
Ter fé é não ter medo de afundar, porque ele está a bordo. Cristo morreu por todos, para que nós que vivemos não vivamos mais para nós mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por nós. Portanto, não deixe o medo nos pressionar: antes, deixe o amor de Cristo nos pressionar.
Ter fé não é esperar que ele acalme a tempestade (embora às vezes o faça), mas confiar no Pai e saber que a tempestade nos dará experiência e nos fortalecerá para podermos chegar a outro porto, a essa outra “margem” que não conhecemos e que não são nossas, mas são das periferias que não interessam a ninguém… MAS ELE PRECISA (não é obrigatório!) que o acompanhemos.
E no final de todas as nossas viagens tempestuosas, ele vai esperar por nós “na Outra Margem”.
Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf
Fonte: Ciudad Redonda