VIVER A FRATERNIDADE

BÍBLIA

Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar. Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (Mateus 12,46-50)

O que lhe querem dizer, a mãe e irmãos de Jesus, quando chegam à casa onde Ele fala? De que é que estão à procura, em pé, do lado de fora, como diz o texto? Passado um momento, alguém indica a Jesus que eles ali estão: «A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te.» Na mesma história, no Evangelho de São Marcos, o contexto é ainda mais tenso. Apenas alguns versículos antes, no capítulo três do Evangelho de São Marcos, é contada a história de como os parentes de Jesus tinham vindo para O levar. Segundo alguns deles, Jesus tinha perdido o juízo e tinha que ser levado de volta à aldeia.

É surpreendente ver neste texto evangélico como a questão da fraternidade – «QUEM SÃO MEUS IRMÃOS?» – surge neste momento da vida de Jesus. Que desafio para Ele! Com certeza, Jesus amava a sua mãe e os seus irmãos ainda com maior carinho e intensidade. Este momento deve ter-Lhe custado muito, mas Ele não poderia ter feito outra coisa. Para acolher o Reino que está para vir e para dar testemunho dele, o coração dos Homens tem que crescer mais; os nossos laços humanos precisam de se abrir, incluindo (talvez especialmente) os mais fortes. Por isso, é muitas vezes no meio de desafios ou mesmo de tensões – Jesus nunca fugiu deles – que o Reino tem que crescer.

Ao longo do texto, no espaço de alguns versículos, as palavras «MÃE» e «IRMÃOS» são repetidas cinco vezes cada uma, três delas pelo próprio Jesus. As palavras surgem como uma cascata. Ao ouvir o texto, parece que a possibilidade de existir todo um grupo de mães e irmãos é já sugerida, com o próprio Jesus a acrescentar a palavra «irmã» no final. Acolher o Reino e dar testemunho dele significa também arranjar lugar para todos e não esquecer ninguém.

Há um gesto no meio da história que parece importante. Mateus diz que Jesus, depois de perguntar «QUEM É A MINHA MÃE E QUEM SÃO OS MEUS IRMÃOS?», estendeu a mão e apontou para os Seus discípulos. São Marcos diz que Jesus olhou para aqueles que estavam à Sua volta. Ambas as versões da história não só nos permitem ouvir Jesus, como nos convidam a olhar para – a imaginar – aqueles que estão presentes. Quem são estas pessoas à Sua volta? Sem dar uma imagem detalhada deles, aqui e ali o Evangelho vai-nos dando pistas. Tratava-se, certamente, de um grupo muito diversificado. Jesus chama-lhes frequentemente «pequeninos». Enquanto discípulos de Jesus, temos que aprender a olhar como Ele olha e, para isso, seguir a Sua mão que aponta e com a qual nos recorda que esta ou aquela pessoa, longe ou perto, é de fato nosso irmão ou irmã e, sim, esta também.

Depois de Jesus ter estendido a mão para os Seus discípulos, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos; pois, todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» Fazer a vontade do Pai é aquilo de que Jesus dá testemunho nesta história e ao longo da Sua vida. Cada pessoa que chega até Ele, todos aqueles que Ele encontra, sem exceção, torna-se Seu irmão, descobrindo-se enquanto filho amado do Pai. Isto diz-nos que estas palavras «irmão» e «irmã» não são meros títulos para usar. Para nós, fazer a vontade do Pai, viver como irmãos, implica tanto tornar-se como ser. Somos irmãos na medida em que procuramos, todos os dias, tornar-nos nessas pessoas, em que caminhamos em direção à aceitação e ao reconhecimento do outro por aquilo que ele é.

PARA REFLETIR

    • Consigo tentar situar-me eu próprio primeiro como «a família de Jesus», depois como «alguém na multidão» e depois como alguém «longe de Jesus»? Como me sinto?
    • Quando olho à minha volta, seguindo de certa forma o gesto da mão de Jesus, o que vejo? Que pessoas reconheço atualmente como irmãos?
    • Através de que gestos, de que palavras, de que atitudes posso viver a fraternidade hoje?

© Ateliers & Presses de Taizé, Communauté de Taizé, 71250 Taizé, France.

Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.