TEMPO DA QUARESMA 2025 – IGREJA CAMINHANDO

DESTAQUE

Podemos nos acostumar com o passar do tempo. Alguém já disse: “O pior não é ter uma alma perversa, mas uma alma acostumada.” E é verdade. A rotina, a indiferença e a acomodação podem nos tornar cegos para a necessidade de mudança, de conversão, de renascimento. Por isso, este Tempo Quaresmal não pode ser apenas mais um período no calendário. Ele deve ser um tempo autenticamente NOVO em nossa vida, um convite para sair da escravidão que nos aprisiona e caminhar rumo à Terra Prometida da liberdade interior.

O número 40 é carregado de significado. Ele nos remete aos 40 anos que o povo de Israel passou no deserto, entre a libertação do Egito e a chegada à Terra Prometida. Foi um tempo de provação, mas também de aprendizado, de purificação e de confiança em Deus. Da mesma forma, os 40 dias que Jesus passou no deserto, após seu batismo no Jordão, foram um período de enfrentamento das tentações e de vitória sobre as forças do mal. Esses quarenta dias não foram apenas um teste, mas uma preparação para sua missão redentora.

E nós? Precisamos também de quarenta dias de transformação? A Igreja, com sabedoria, nos oferece esta oportunidade. Imagine que, durante este Tempo Quaresmal, participamos diariamente da Eucaristia: ouvimos a Palavra de Deus, deixamos que ela ecoe em nosso coração, comungamos o Maná do Céu, que nos sustenta na jornada, e renovamos nossa Aliança com o Senhor. Será uma oportunidade única, um verdadeiro kairós – um tempo favorável para reencontrarmos o essencial, para reacendermos a chama da fé e da esperança em nossos corações.

A Igreja está em marcha. Como diz uma de nossas canções: “A um mundo novo vamos já.” Por que não nos unirmos a essa marcha? Por que não abandonarmos o que há de velho e deteriorado em nossas vidas e em nosso mundo? Sonhemos com um mundo diferente, onde a justiça, a paz e o amor reinem. “Que passe este mundo e venha a graça!, exclamava a Didaqué, um dos textos cristãos mais antigos, que nos lembra que a verdadeira vida está além das aparências, além das estruturas caducas que insistem em nos prender.

Há Quaresma onde sentimos, como os profetas, o pânico dos poderes da morte, o pânico que nos impulsiona para frente. Esse pânico não é um medo paralisante, mas um alerta, um chamado à conversão. É o grito de Isaías, de Jeremias, de Ezequiel, que clamavam por um retorno a Deus diante da decadência moral e espiritual de seu tempo. Hoje, não é diferente. O mundo grita por transformação: nas desigualdades sociais, na degradação do meio ambiente, na indiferença para com o sofrimento alheio. A Quaresma nos convida a ouvir esse grito e a responder com ações concretas de amor, solidariedade e compromisso com o Reino de Deus.

Que esta Quaresma seja, portanto, um tempo de deserto, mas também de ESPERANÇA. Um tempo de silêncio, mas também de ESCUTA. Um tempo de renúncia, mas também de DESCOBERTA da verdadeira liberdade. Que este tempo nos ajude a romper com as correntes que nos prendem ao passado e nos impulsione a caminhar, com fé e coragem, rumo à Páscoa da Ressurreição.

Texto: José Cristo Rey Garcia Paredes