Oito dias após o Natal, a liturgia nos direciona a Maria, a Mãe de Deus, ou “Theotókos”, título proclamado no Concílio de Éfeso em 431. Este reconhecimento destaca o papel singular de Maria ao dizer “sim” ao plano divino, permitindo que o Verbo se fizesse carne. Por meio de sua entrega total, Maria abriu caminho para a transformação da humanidade.
Neste dia, três celebrações interligadas nos convidam à reflexão. A Solenidade da Mãe de Deus nos leva a contemplar Maria como modelo de fé e entrega. Ela nos ensina a confiar em Deus e a cooperar com seu projeto, mesmo diante do desconhecido. O Dia Mundial da Paz, instituído em 1968 pelo Papa Paulo VI, é um momento para rezar e agir pela paz, ecoando a mensagem de perdão e reconciliação do Papa Francisco para a 58ª mensagem para o Dia Mundial da Paz: “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz.” Esta frase nos recorda que o perdão é essencial para uma paz verdadeira, desafiando-nos a promover justiça e amor em nossas comunidades. Finalmente, o início do ano civil nos convida a renovar esperanças, abraçando a bênção divina e caminhando de mãos dadas com Deus.
As leituras deste domingo oferecem perspectivas ricas. A Primeira Leitura (Nm 6,22-27) traz uma bênção que afirma a constante presença de Deus como fonte de vida e paz. A Segunda Leitura (Gl 4,4-7) destaca o amor divino manifestado em Jesus, que nos liberta e nos torna filhos amados, permitindo-nos chamar Deus de “abbá” – “papai”. No Evangelho (Lc 2,16-21), Jesus é apresentado como esperança para os pobres e marginalizados, enquanto Maria nos ensina, com seu silêncio contemplativo, a acolher e meditar sobre os mistérios de Deus.
Este dia nos inspira a dizer “sim” como Maria, a buscar a paz por meio do perdão e a iniciar o novo ano com propósito e confiança. Que nossas vidas reflitam o amor divino, promovendo perdão, reconciliação e esperança para um mundo renovado.
Leituras
Que o nome do Senhor seja invocado sobre nós, como sobre os filhos de Israel, para que Sua bênção ilumine nossas vidas com paz, proteção e o amor que transforma os corações.
Palavra do Senhor.
Que a graça e a bênção de Deus nos envolvam, renovando nossos corações e iluminando nossos passos, para que nossas vidas reflitam Seu amor e a paz se espalhe por toda a terra.
R. Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção.
2 Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, *
e sua face resplandeça sobre nós!
3 Que na terra se conheça o seu caminho *
e a sua salvação por entre os povos. R.
5 Exulte de alegria a terra inteira, *
pois julgais o universo com justiça;
os povos governais com retidão, *
e guiais, em toda a terra, as nações. R.
6 Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, *
que todas as nações vos glorifiquem!
8 Que o Senhor e nosso Deus nos abençoe, *
e o respeitem os confins de toda a terra! R.
No momento perfeito de Sua infinita sabedoria, Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher, para nos resgatar e nos revelar a grandeza do amor que nos faz filhos e herdeiros do céu.
nascido sujeito à Lei,
tudo isso, por graça de Deus.
Palavra do Senhor.
Na simplicidade de um estábulo, pastores encontraram Maria, José e o recém-nascido, sinal do amor divino.
e o recém-nascido, deitado na manjedoura.
conforme lhes tinha sido dito.
deram-lhe o nome de Jesus,
como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido.
Palavra da Salvação.
HOMILIA
BÊNÇÃO E FÉ
Começamos um novo ano. Desejamos a você um feliz ano novo! No entanto, a felicidade não está ao nosso alcance. A felicidade é sempre um presente, uma bênção. A primeira liturgia deste ano de 2025 nos convida a fazê-lo.
Dividirei esta homilia em três partes:
- O desejo de vida e fertilidade;
- Abençoado por Deus;
- A “abençoada” mãe de Jesus
O DESEJO DE VIDA E FERTILIDADE
Quão bela é a leitura do Livro dos Números que acabamos de proclamar! Nela, somos transportados para o mistério da bênção divina, um desejo profundo de vida, prosperidade e plenitude. A bênção não é meramente um voto humano; é uma ponte que liga o coração do homem ao coração de Deus. Somente Ele, fonte de toda graça, pode realizar este desejo de vida abundante. Contudo, o mais admirável é que nosso Deus, em Sua infinita bondade, nos convida a participar desse ato divino, tornando-nos instrumentos de bênção. Ele quer que sejamos não apenas receptores, mas também transmissores da Sua bênção, desejando-a e proclamando-a sobre a vida dos outros.
Lembro-me, com ternura, da emoção de meu pai ao ler essa passagem no primeiro dia do ano. Sua voz carregava reverência ao destacar cada palavra:
“Que o Senhor te abençoe e te guarde! Que o Senhor faça brilhar o Seu rosto sobre ti e te conceda Sua graça! Que o Senhor volte para ti o Seu rosto e te dê a paz!”
Era como se ele, naquele momento, desejasse transmitir, através de cada palavra, o cuidado de Deus sobre nossa família, e sua emoção dava testemunho da profundidade dessa oração.
Somos chamados a abençoar, e não a amaldiçoar. Palavras de bênção têm o poder de transformar ambientes, renovar corações e atrair a presença de Deus para onde são proclamadas. Se a nossa palavra carrega a bênção divina, ela pode gerar paz onde há discórdia, esperança onde há desânimo e alegria onde há tristeza. Mais do que isso, se abençoarmos com fé e sinceridade, Deus, em Sua fidelidade, age através de nós e abençoa na medida do nosso desejo e da nossa palavra.
Portanto, sejamos portadores de bênçãos! Deixemos que nossos lábios sejam fontes de vida, pronunciando palavras que elevem, curem e edifiquem. A cada bênção que ofertamos, testemunhamos o rosto amoroso de Deus que deseja ardentemente que todos experimentem Sua paz e plenitude.
ABENÇOADO POR DEUS
A segunda leitura, tirada da carta de São Paulo aos Gálatas, revela a grandeza incomparável da “maior bênção” que já nos foi concedida: a vinda do Filho de Deus ao mundo. Este evento transformador ocorreu na “plenitude dos tempos”, o momento em que o plano divino alcançou seu ápice, e o Abba celestial, em um gesto de amor sem limites, enviou Seu Filho unigênito para nos resgatar. “Deus amou tanto o mundo que nos deu o Seu Filho unigênito” — uma dádiva que ecoa como a mais sublime manifestação do amor divino.
O Filho de Deus, o Verbo encarnado, nasceu “de uma mulher”, Maria, a humilde serva escolhida para ser a Mãe do Salvador. Nessa escolha, Deus dignificou a humanidade, demonstrando que a salvação não seria um evento distante ou místico, mas algo profundamente humano, enraizado na nossa realidade. São Paulo destaca ainda outra dimensão crucial: Jesus nasceu “sob a lei”. Ao submeter-se às exigências da lei, Ele tornou-se plenamente solidário à condição humana, assumindo todas as nossas limitações, exceto o pecado. Ele foi verdadeiramente um de nós, e por meio Dele, somos chamados a ser como Ele — não em Sua divindade, mas em Sua santidade e comunhão com o Pai.
Mas a bênção não termina aí. O Abba do céu não apenas nos deu Seu Filho, mas também enviou o Espírito Santo para habitar em nossos corações. Este Espírito clama incessantemente dentro de nós: “Abba! Pai!” Este clamor não é apenas uma oração; é a confirmação viva de que somos filhos de Deus, adotados em Sua família divina, herdeiros de Sua promessa. E mais: somos co-herdeiros com Cristo, partilhando da herança celestial que nos une ao Pai.
Que bênção maior poderíamos desejar? Em Cristo e pelo Espírito, recebemos a graça de viver como filhos amados, com a certeza de que nada nos separará do amor de Deus. A cada dia, somos convidados a redescobrir essa herança, vivendo como testemunhas desse amor infinito e partilhando essa bênção com o mundo.
A “ABENÇOADA” MÃE DE JESUS
Maria, no mistério do Natal, não se apresenta como uma figura autossuficiente ou distante, mas como um modelo de humildade e abertura ao mistério de Deus. O Evangelho deste primeiro dia do ano destaca a simplicidade e a fé dos pastores, que, ao ouvir as palavras dos anjos, respondem com prontidão. Eles deixam tudo para trás e correm em direção ao portal, movidos pela obediência e pelo desejo de contemplar o que lhes foi anunciado.
Esse contraste entre a fé ingênua e confiante dos pastores e a incredulidade de Zacarias, o sacerdote do Templo, é marcante. Zacarias, apesar de sua proximidade com o culto sagrado, hesitou em acreditar na mensagem do Anjo e, por isso, perdeu a voz. Sua dúvida o afastou temporariamente do júbilo e da proclamação. Em contrapartida, os pastores — pobres e marginalizados, sem prestígio nem poder — acolheram as boas-novas com simplicidade, e sua fé os levou a se tornarem as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador.
Ao chegarem a Belém, os pastores encontram o mistério da salvação envolto na mais absoluta simplicidade: um recém-nascido envolvido em faixas, repousando em uma manjedoura, junto de Maria e José. Maria, nesse cenário, não se exalta nem assume protagonismo. Ela é uma mãe atenta e silenciosa, guardando cada acontecimento em seu coração. Seu papel é meditar, juntar as peças e permitir que a profundidade do mistério se revele progressivamente em sua compreensão.
Essa atitude de Maria é um convite a todos nós. Ela nos ensina que, diante dos mistérios de Deus, não devemos buscar explicações imediatas ou respostas definitivas, mas sim cultivar um coração aberto e meditativo. Maria reúne, em sua contemplação, a alegria dos pastores, a mensagem dos anjos e a realidade do Menino em seus braços. Sua reflexão paciente nos lembra que a fé exige tempo, silêncio e confiança para se aprofundar.
O Natal nos convida, portanto, a imitar tanto a prontidão dos pastores quanto a meditação de Maria. Somos chamados a acreditar, mesmo na simplicidade e nos detalhes cotidianos, que Deus age de maneira extraordinária, e a guardar em nosso coração as maravilhas que Ele realiza em nossas vidas. Assim como Maria, possamos meditar, acolher e proclamar, tornando-nos também portadores desse mistério de amor ao mundo.
CONCLUSÃO
Que o Espírito Santo, enviado aos nossos corações, nos conceda o dom de guardar o mistério do Natal como Maria, com humildade e contemplação. Maria, ao meditar em seu coração os acontecimentos ao seu redor, nos ensina a profunda fé que vai além da simples observação, reunindo cada momento para entender o plano de Deus. Ela nos convida a abrir nossos corações ao Espírito, para que Ele nos ajude a compreender o mistério da Encarnação.
Como os pastores, somos chamados a ter prontidão para crer e agir. Eles não apenas ouviram a mensagem dos anjos, mas correram até Belém com fé, para ver com seus próprios olhos o que lhes foi anunciado. Sua obediência e entusiasmo são um exemplo de como devemos responder ao chamado de Deus: com confiança e disposição para seguir em frente, mesmo sem compreender totalmente.
Somente quando vemos, ouvimos e cremos é que nossa experiência do mistério se completa. E é nesse entendimento profundo que somos chamados a comunicar o Mistério do Natal ao mundo, não apenas com palavras, mas com nossas ações, transmitindo a alegria e a paz do encontro com o Salvador. Que o Espírito nos conceda ser mensageiros fiéis do Natal, refletindo a luz de Cristo em nossas vidas.
ORAÇÃO
Senhor Deus, Pai de Misericórdia, ao começarmos este novo ano, queremos, como a Igreja, olhar para Maria, nossa Mãe, e pedir a Sua intercessão, para que possamos trilhar o caminho da paz, da justiça e do amor. Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, que contemplou o mistério divino em Seu coração, ensina-nos a confiar plenamente no plano de Deus para nossas vidas.
Que o Teu olhar materno, cheio de graça e compaixão, nos ilumine em cada passo deste novo ano. Que possamos, como Maria, responder ao Teu chamado com fé, disponibilidade e coragem. Que, com Ela, possamos ser instrumentos de paz e fraternidade no mundo, oferecendo a nossa vida como um humilde serviço a Deus e ao próximo.
Pedimos, Senhor, que derrames sobre nós o Espírito Santo, para que possamos viver cada dia com a certeza de que somos filhos e filhas amados por Ti. Que, mesmo nas dificuldades, possamos lembrar que Tu nunca nos abandona, e que Maria nos acolhe como Mãe. Que este ano seja um tempo de graça, onde renovamos nossa confiança em Ti, buscando sempre fazer a Tua vontade.
Que Maria, que guardava em Seu coração os mistérios divinos, interceda por nós, e que sua maternidade nos ajude a crescer na fé e no amor a Ti e aos nossos irmãos. Que a sua paz, que excede todo entendimento, nos envolva e nos conduza ao longo deste novo ano.
Em nome de Jesus, Teu Filho, que nos deu Maria como Mãe, confiamos nossas vidas a Ti.
Amém.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.