MARIA, MÃE EDUCADORA DO AMOR

ARTIGOS

Viver na história significa pertencer a uma comunidade de mulheres e homens que nos precederam, que construíram casas, cultivaram a terra, lutaram para sobreviver, inventaram instrumentos, desenvolveram tecnologias, amaram e esperam… Não se pode esquecer e nem desvalorizar o que aconteceu antes de nós, o que nos abriu um caminho. Por outro lado, sabemos que naturalmente somos impulsionados para o futuro e para coisas novas. Não somente o novo no sentido de tempo, mas novo na qualidade. Esta é a mensagem central da liturgia do quinto domingo do Tempo Pascal, o novo. (Atos 14, 21b-27; Salmo 14, Apocalipse 21,1-5a e João 13, 31-35). “Eis que faço novas todas as coisas” e “eu vos dou um novo mandamento”.

Diante do novo mandamento de Jesus, que é mais do que um simples desejo ou recomendação, Santo Agostinho se interrogava: “Mas este mandamento já não estava escrito na antiga lei de Deus, onde se lê: Amarás o teu próximo como a ti mesmo? (Levítico 19,18)”. Onde está o novo? A novidade está: “Como eu vos amei”. A partir de agora a medida do mandamento do amor não é mais a medida humana, “a si mesmo”, mas o parâmetro de comparação é divino, o modo de amar de Jesus.

O mandamento novo de Jesus vai na contramão da nossa cultura. Na cultura ocidental a partir da Idade Moderna o homem vai se considerando o centro do mundo. Afirma-se que se passa do teocentrismo, isto é, Deus como centro, uma das características da Idade Média, para o antropocentrismo, onde o homem é o personagem principal. Este modo ocidental de pensar foi se desenvolvendo e, com o passar dos séculos, segundo alguns pensadores, transformou o antropocentrismo em antropoteísmo. Agora o homem é a divindade. É unicamente ele que tem nas mãos o seu rumo e seu futuro. É o homem que define o que é o bem e o mal. A vontade dele deve ser realizada. Ele governa e decide tudo baseado unicamente na razão, na tecnologia e na legislação convencionada.

Como conjugar o amor humano e a novidade de Jesus “como eu vos amei”? Amar como Jesus amou significa destronar o homem? Seria uma violência contra a natureza humana? São amores excludentes? Pode haver um diálogo entre os homens e Deus sobre o amor? A antropologia cristã, isto é, a visão cristã de ser humano entende que “amar com Jesus amou” não diminui e nem agride os humanos, pelo contrário, torna os humanos mais humanos.

Voltando a santo Agostinho:

“É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos, herdeiros da nova Aliança, cantores do canto novo. Foi este amor, caríssimos irmãos, que renovou outrora os antigos justos, os patriarcas e os profetas e, posteriormente, os santos apóstolos. Ainda hoje é ele que renova as nações e reúne todo o gênero humano espalhado pelo mundo inteiro, formando um só povo novo. (…) Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele”.

Como eu vos amei” se torna para os cristãos o fundamento do amor e a sua identidade. Isto significa três coisas. Antes de tudo que, sem Cristo, ficamos limitados ao nosso eu, ao nosso horizonte, aos nossos pré-juízos. Em segundo lugar, que o amor cristão não será jamais mercenário, jamais estará condicionado à mutua troca, isto é, eu te amo se tu me amas. O fundamento do amor de Cristo é a gratuidade, simplesmente gratuidade. E, por último, que o amor cristão não pode reduzir-se a uma compaixão sentimental e estéril. O amor ou é construtivo e operoso ou não é amor. Porque Jesus insistiu tanto no novo mandamento? Porque ele é mais inovador e construtivo que o orgulho humano da autossuficiência. 

Texto: DOM RODOLFO LUÍS WEBER
Imagem: PIXABAY
Fonte: CNBB