“NÃO PODEMOS DEIXAR DE AFIRMAR O QUE VIMOS E OUVIMOS”. (At 4, 20).
Os homens e mulheres necessitam, urgentemente, tomar posse das graças de Deus, e, tomando posse, conhecê-Lo e, conhecendo-O, sentir esse Amor que é superior a tudo e a toda forma de amar. Diante do cenário pandêmico que a humanidade viveu, abre-se, aos poucos, novas portas de esperança para um recomeçar, uma volta gradual à normalidade onde, de forma diferente, sairemos de um isolamento social para novos tempos de relacionamentos face a face, de uma proximidade tão necessária à vida em sociedade. Isso pode parecer assustador e ao mesmo tempo prazeroso, diante de tantos meses de incertezas e temores. Há que se recomeçar, retornar ao convívio salutar da socialização e da comunhão fraterna. Somente na unidade do amor e da compreensão será possível retomar o curso da vida.
A Pandemia ensinou, à duras penas, que somos frágeis e susceptíveis diante do inesperado. A vida sempre nos surpreende, com altos e baixos, dificuldades e recomeços. Vivemos na pandemia um recolhimento necessário, onde a missão maior de cada cristão era rezar incansavelmente, clamando a misericórdia do Pai sobre a humanidade. Foi como se Jesus nos indagasse: “Que queres que eu te faça?”, e nossa resposta sempre foi: “extingue, com Teu braço poderoso, essa pandemia”. Agora é a hora de agradecer e retomar, com mais ardor e confiança, nossa vida de discípulos/missionários da vinha do Senhor.
Outubro, mês missionário, nos chama à missão cotidiana de anunciar Jesus, não apenas por meios tecnológicos, como fizemos na pandemia, mas com coragem, face a face, porta à porta, pois, “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Não podemos deixar de anunciar todas as graças recebidas do Pai nestes tempos mais escuros de nossa vida. Quantos foram os testemunhos de cura, libertação, conversão e oração presenciados em meio à pandemia? Quantas dores foram transformadas em alegrias, quantos perdões foram pedidos à beira do leito de um hospital? Somos todos missionários, não por méritos próprios e sim pela graça da bondade de Deus que derramou sobre nós os dons do Espírito Santo fazendo-nos participantes da obra salvífica de Cristo.
Nossa maior missão é anunciar Aquele que é Misericórdia infinita, dar a conhecer seu Amor aos que não O conhecem e aos que, mesmo conhecendo-O, não vivem esse amor em si mesmos. TODO BATIZADO É MISSIONÁRIO, pois é portador dessa graça e do carisma evangelizador, como dom inerente à sua própria vontade. Porém, ter essa graça em si e não fazer uso dela, saber-se missionário e não exercitar essa missão é negar ou esconder a graça recebida.
Missionário é aquele que crê, e crendo, põem em prática esses dons e carismas recebidos, pois sabe que não tem o direito de reter para si o que é de Deus. Missionário é aquele que aprimora seu conhecimento de Deus ao longo da vida e, usando a criatividade e os meios disponíveis atualmente, lança mão do cotidiano para anunciar com fervor, seja com a vida pessoal, seja com palavras e obras específicas, a Boa Nova, o Amor que dá sentido à vida de todos.
A Pandemia expôs, de forma muito dolorosa, o sofrimento, a solidão, as necessidades mais íntimas do ser humano, deixando à mostra a insegurança e o medo. Mesmo os mais fervorosos missionários viveram momentos de cansaço e falta de ânimo, sentindo o peso de tempos sombrios. A vida é assim, todos têm altos e baixos, somos tentados pelo inimigo a desistir da missão cristã e a nos entregarmos ao desânimo, como também somos exortados, tomados pela mão Divina que nos levanta e nos coloca no caminho missionário. Há momentos de entrega total à missão e outros, nem tanto, onde o vazio existencial parece tomar conta de nosso coração e de nossas atitudes. Precisamente nesses momentos é que todo cristão deve clamar ao Espírito Santo para que reacenda a chama missionária, o desejo de dar a conhecer o “vimos e ouvimos”, os ensinamentos de Jesus Cristo e seu Amor Misericordioso aos que padecem e perecem no desconhecimento da Pessoa de Jesus.
A Igreja de Jesus Cristo existe para evangelizar, sua identidade é a Missão. Num mundo sedento de tudo, onde as pessoas procuram tanto a fórmula da felicidade completa, urge que a Igreja, que somos todos nós batizados, tenhamos como prioridade o Anúncio do verdadeiro amor que é Cristo. Não nos deixemos abalar pela falta de interesse de muitos, nem queiramos grandes e rápidas transformações, sejamos apenas gotas de esperança e misericórdia na vida dos que nos cercam, deixando exalar o bom perfume de Cristo por onde passamos. Mais que saber que somos chamados à missão, sejamos, de fato e de verdade, missionários como foram a Virgem Maria e São José, que, no silêncio e nas atitudes, cumpriram sua missão, com fé, obediência e confiança no auxílio Divino.
Texto: DOM CARLOS JOSÉ DE OLIVEIRA
Imagem: PIXABAY
Fonte: CNBB