II DOMINGO DA PÁSCOA (Ano C)

A PALAVRA DESTAQUE

Neste segundo domingo da Páscoa, a Igreja celebra com júbilo a Festa da Divina Misericórdia, instituída por São João Paulo II em 30 de abril do ano 2000. Mais do que uma comemoração litúrgica, esta é uma celebração da esperança viva, da presença constante de Cristo Ressuscitado no meio da sua Igreja. E que momento mais apropriado? Pois é na misericórdia que a vitória de Cristo sobre a morte se torna tocávelconcreta, visível na vida daqueles que O seguem. A liturgia nos convida a olhar além do sepulcro vazio: ela nos aponta para a comunidade que nasce dessa vitória, uma família de fé que carrega em si o sopro do Ressuscitado.

O Evangelho (Jo 20,19-31) nos apresenta a Nova Aliança, não como um conceito abstrato, mas como um corpo vivo, pulsante, formado por homens e mulheres que se reúnem em nome de Jesus. Eles não são meros espectadores da ressurreição — são partícipes dela. Quem deseja “VER” Cristo hoje não precisa de uma máquina do tempo para voltar à Galileia; basta olhar para a Igreja, onde Ele se faz presente no partir do pão, no serviço aos pequenos, no amor que vence o medo. Como Tomé, somos tentados a duvidar, mas a fé não brota de provas físicas, e sim do encontro com uma comunidade que vive, aqui e agora, a vida nova que Jesus oferece.

Primeira Leitura (At 5,12-16) nos transporta para Jerusalém, onde os primeiros cristãos, ainda sob o impacto do Pentecostes, viviam algo radical: “Tinham tudo em comum” (At 2,44). Não era uma utopia — era um sinal. A ressurreição não ficou guardada como um dogma; transformou-se em partilha, em cura, em acolhida aos frágeis. Quando a Igreja age assim, ela não está sendo “bonzinha” — está sendo autêntica. Cada gesto de solidariedade é um eco do toque de Jesus no leproso, do seu olhar sobre Zaqueu. A questão não é “fazer caridade”, mas reconhecer que o pobre, o doente, o excluído são sacramentos vivos de Cristo.

Já a segunda leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19), extraída do Apocalipse, nos lembra que a caminhada da Igreja não é um idílio. João escreve às comunidades perseguidas, esmagadas pelo Império Romano, e lhes mostra uma visão: o “Filho do Homem”, revestido de glória, segurando as chaves da morte e do inferno (Ap 1,18). Essa imagem não é um consolo piegas — é um grito de resistência. Ela diz: “O mal não tem a última palavra“. Hoje, quantas forças ainda se opõem à vida? Opressão, indiferença, desespero… Mas a comunidade cristã existe para testemunhar que a morte foi derrotada — não apenas no fim dos tempos, mas nas pequenas ressurreições do cotidiano: um vício vencido, um perdão impossível que se concretiza, um coração que se abre à esperança.

Eis o convite deste domingo: Não basta admirar a ressurreição de Jesus – é preciso fazer parte dela. A Divina Misericórdia não é uma devoção estática; é um rio de graça que flui através da Igreja. Quando nos unimos aos irmãos, quando cuidamos dos que sofrem, quando resistimos ao mal com amor, tornamo-nos a prova de que Cristo está vivo.

Por isso, a pergunta que fica não é “Você acredita na ressurreição?”, mas sim: “Onde, em sua vida, a ressurreição precisa acontecer hoje?”. A resposta está na comunidade, na misericórdia, e no sim que damos ao Cristo que caminha ao nosso lado.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A comunidade que nasce da ressurreição é o corpo vivo de Cristo hoje: nela, ‘Eu estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20) se torna carne em gestos de misericórdia que iluminam um mundo sedento de esperança.

12 Muitos sinais e maravilhas
eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos.
Todos os fiéis se reuniam, com muita união,
no Pórtico de Salomão,
13 Nenhum dos outros ousava juntar-se a eles,
mas o povo estimava-os muito.
14 Crescia sempre mais
o número dos que aderiam ao Senhor pela fé;
era uma multidão de homens e mulheres.
15 Chegavam a transportar para as praças os doentes
em camas e macas,
a fim de que, quando Pedro passasse,
pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles.
16 A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém,
trazendo doentes
e pessoas atormentadas por maus espíritos.
E todos eram curados.
Palavra do Senhor.

Hoje, como eco do ‘Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!’ (Sl 117,1), a Igreja vive e irradia essa bondade infinita, transformando desespero em esperança e escuridão em luz.

R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom!
“Eterna é a sua misericórdia!”

2 A casa de Israel agora o diga:*
“Eterna é a sua misericórdia!” 
3 A casa de Aarão agora o diga:*
“Eterna é a sua misericórdia!” 
4 Os que temem o Senhor agora o digam:*
“Eterna é a sua misericórdia!” R.

22 “A pedra que os pedreiros rejeitaram,*
tornou-se agora a pedra angular.
23 Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:*
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!
24 Este é o dia que o Senhor fez para nós,*
alegremo-nos e nele exultemos! R.

25 Ó Senhor, dai-nos a vossa salvação,*
ó Senhor, dai-nos também prosperidade!”
26 Bendito seja, em nome do Senhor,*
aquele que em seus átrios vai entrando!
Desta casa do Senhor vos bendizemos.*
27 Que o Senhor e nosso Deus nos ilumine! R.

Cristo, que ‘esteve morto, mas agora vive para sempre’ (Ap 1,18), ilumina nossas trevas com Sua ressurreição, transformando nosso hoje em eternidade e nosso medo em coragem santificada.

9 Eu, João,
vosso irmão e companheiro na tribulação,
e também no reino e na perseverança em Jesus,
fui levado à ilha de Patmos,
por causa da Palavra de Deus
e do testemunho que eu dava de Jesus.
10 No dia do Senhor,
fui arrebatado pelo Espírito
e ouvi atrás de mim uma voz forte,
como de trombeta,
11a a qual dizia:
“O que vais ver, escreve-o num livro.
12 Então voltei-me
para ver quem estava falando;
e ao voltar-me,
vi sete candelabros de ouro.
13 No meio dos candelabros
havia alguém semelhante a um “filho de homem”,
vestido com uma túnica comprida
e com uma faixa de ouro em volta do peito.
17 Ao vê-lo, caí como morto a seus pés,
mas ele colocou sobre mim sua mão direita e disse:
“Não tenhas medo.
Eu sou o Primeiro e o Último,
18 aquele que vive.
Estive morto,
mas agora estou vivo para sempre.
Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos.
19 Escreve pois o que viste,
aquilo que está acontecendo
e que vai acontecer depois.
Palavra do Senhor.

Oito dias depois, quando o medo ainda trancava portas e corações, “Jesus entrou” (Jo 20,26); e sua presença continua a atravessar nossos muros interiores, trazendo paz, sentido e esperança à humanidade ferida.

19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas, por medo dos judeus,
as portas do lugar onde os discípulos se encontravam,
Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: 
“A paz esteja convosco”.
20 Depois destas palavras,
mostrou-lhes as mãos e o lado.
Então os discípulos se alegraram
por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: 
“A paz esteja convosco.
Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
22 E depois de ter dito isto,
soprou sobre eles e disse: 
“Recebei o Espírito Santo.
23 A quem perdoardes os pecados
eles lhes serão perdoados;
a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
24 Tomé, chamado Dídimo, 
que era um dos doze,
não estava com eles quando Jesus veio. 
25 Os outros discípulos contaram-lhe depois:
“Vimos o Senhor!”. 
Mas Tomé disse-lhes:
“Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos,
se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos
e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. 
26 Oito dias depois, encontravam-se os discípulos
novamente reunidos em casa, 
e Tomé estava com eles.
Estando fechadas as portas, Jesus entrou,
pôs-se no meio deles e disse: 
“A paz esteja convosco”.
27 Depois disse a Tomé:
“Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos.
Estende a tua mão e coloca-a no meu lado.
E não sejas incrédulo, mas fiel”.
28 Tomé respondeu: 
“Meu Senhor e meu Deus!”
29 Jesus lhe disse: 
“Acreditaste, porque me viste?
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” 
30 Jesus realizou muitos outros sinais
diante dos discípulos,
que não estão escritos neste livro.
31 Mas estes foram escritos para que acrediteis 
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da Salvação.

Homilia

VOCÊ ACREDITA NA RESSURREIÇÃO?

Neste segundo Domingo da Páscoa, somos convidados a encarar uma das perguntas mais inquietantes da existência humana: O que existe depois da morte? E a resposta que nos é dada não apenas nos surpreende — ela nos desconcerta com esperança: há ressurreição dos mortos! A morte não é o ponto final. Não é ela quem tem a última palavra. As três leituras deste domingo são como vozes que, em harmonia, anunciam esta certeza pascal: Cristo vive, e com Ele também viveremos!

Para aprofundarmos essa mensagem, proponho dividirmos esta homilia em três momentos de contemplação:

  • Crer na vitória do bem sobre o mal
  • A ‘sombra’ de Pedro
  • O vidente de Patmos

CRER NA VITÓRIA DO BEM SOBRE O MAL

A esperança nasce da fé. E a fé é como uma visão que enxerga mesmo quando tudo ao redor parece mergulhado na escuridão. Nenhum de nós consegue ver com clareza o que há além desta vida — e, por isso, não é de se admirar que muitos, cada vez mais, pensem que tudo termina com a morte, que a jornada da vida se encerra na sepultura, sem continuação.

Mas nossa fé cristã, teimosa e confiante, insiste com firmeza na proclamação que atravessa os séculos e ressoa com poder renovado neste tempo pascal: Creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Esta não é apenas uma bela ideia, é a certeza enraizada em um acontecimento concreto: Jesus foi ressuscitado pelo Pai, no poder do Espírito, e nós também — unidos ao Seu Corpo pela fé, pelos sacramentos e pelo amor — seremos ressuscitados com Ele.

Neste Domingo da Divina Misericórdia, somos convidados a contemplar não apenas a vitória de Cristo sobre a morte, mas a promessa que se abre diante de cada um de nós: a vida não termina na dor, no fracasso ou no túmulo. “Oito dias depois, Jesus entrou” (Jo 20,26) — e Ele continua entrando, atravessando portas trancadas pelo medo, renovando nossa fé e reacendendo a esperança nos corações feridos deste tempo.

A ‘SOMBRA’ DE PEDRO

A primeira leitura nos revela algo maravilhoso: “Pelas mãos dos apóstolos realizavam-se muitos sinais e prodígios entre o povo” (At 5,12). Ela nos mostra também uma cena comovente e cheia de fé: “Levaram os doentes às ruas e os colocavam em leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse algum deles” (At 5,15).

Mas não era pela autoridade de Pedro, nem por seu título, que os milagres aconteciam. Pedro estava transbordando de Cristo — era Jesus quem se manifestava através dele… até mesmo por meio de sua “boa sombra”. Havia algo nele que curava sem precisar de palavras. Por isso traziam os enfermos: sua simples presença já comunicava vida.

E não foi apenas com Pedro. Aquela comunidade de discípulos de Jesus também era portadora de sinais e prodígios. A fé se tornava visível, não só por discursos, mas por gestos concretos, por curas, por vida que renascia onde antes havia desespero.

Hoje, também nós somos chamados a viver essa Páscoa em nossa realidade. Em nosso amor ardente por Jesus, podem surgir novas “aparições pascais”, milagres discretos e profundos, que nascem do cuidado, da escuta e da presença. Até mesmo nossa sombra — quando cheia do Espírito — pode irradiar consolo, esperança e vida.

Neste Domingo da Divina Misericórdia, somos convidados a deixar que Cristo aja em nós, com toda sua força de Ressuscitado. Porque onde há fé viva e amor verdadeiro, o milagre da Páscoa continua acontecendo.

O VIDENTE DE PATMOS

Na segunda leitura, o vidente do Apocalipse é envolvido por uma verdadeira sinfonia de símbolos e visões. Tudo acontece no domingo, o Dia do Senhor, aquele em que a luz venceu a escuridão para sempre. O céu se abre diante dele, dissipando toda a treva — sinal de uma noite sem sentido —, e aquilo que era oculto se torna revelação.

O vidente contempla os céus abertos e entra em êxtase ao vislumbrar uma figura semelhante à humana: é Jesus, o Filho de Deus Pai, que se manifesta em toda a sua glória. Ele não é outro senão o Crucificado, aquele que foi ferido e rejeitado. Mas agora aparece transfigurado, resplandecente, revestido de majestade — é a beleza da ressurreição que se impõe com força e ternura.

Essa visão não é apenas uma recordação litúrgica do passado, mas um convite presente: também a nós é oferecida a graça de viver o domingo como o dia em que os céus se abrem e a vida vence a morte. A liturgia deste II Domingo da Páscoa nos chama a contemplar com os olhos da fé essa revelação viva e real do Ressuscitado, que atravessa nossas noites e nos enche de esperança.

Assim como o vidente de Patmos, somos convidados hoje a ver além do que é visível, a deixar que o Espírito abra nossos olhos interiores. Pois aquele que esteve morto, agora vive para sempre. “Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive. Estive morto, mas eis que estou vivo para sempre” (Ap 1,17-18).

CONCLUSÃO

Nós, como alguns dos primeiros testemunhos da Ressurreição, muitas vezes também duvidamos que a ressurreição seja real. Questionamos se, de fato, é possível que a vida vença a morte. Para alcançarmos a certeza dessa verdade tão sublime, é necessário que nosso coração passe por um processo de purificação – uma abertura interior que nos torne sensíveis ao mistério divino.

As mulheres da aurora, aquelas que se levantaram cedo para ungir o corpo de Jesus, foram agraciadas ainda naquele amanhecer com a visita do Ressuscitado. Elas estavam prontas – em amor, em serviço, em fé – e por isso O viram. Já os discípulos, como Tomé, precisaram de tempo… levou uma semana até que ele pudesse reconhecer Jesus como Aquele que vive.

Hoje, como Igreja, também somos interpelados por essa tensão entre dúvida e fé. E a nós, peregrinos do tempo presente, Jesus proclama uma bem-aventurança que nos alcança diretamente: Felizes os que creram sem ter visto (Jo 20,29).

Crer sem ver – eis o desafio e a graça. Crer mesmo quando os sinais são discretos, quando o túmulo parece fechado, quando o mundo proclama o contrário. Mas se Jesus ressuscitou, então a última palavra nunca será da morte. Se com Ele morremos, com Ele também viveremos (cf. Rm 6,8). Essa é a nossa esperança inabalável: TAMBÉM NÓS RESSUSCITAREMOS.

Nesta oitava da Páscoa, somos convidados a deixar que a fé pascal nos molde, cure nossas dúvidas e nos torne testemunhas vivas da Ressurreição. O Ressuscitado continua a visitar os corações abertos – e a transformar sombras em luz.

A esperança nasce da fé. E a fé é como uma visão que enxerga mesmo quando tudo ao redor parece mergulhado na escuridão. Nenhum de nós consegue ver com clareza o que há além desta vida — e, por isso, não é de se admirar que muitos, cada vez mais, pensem que tudo termina com a morte, que a jornada da vida se encerra na sepultura, sem continuação.

Mas nossa fé cristã, teimosa e confiante, insiste com firmeza na proclamação que atravessa os séculos e ressoa com poder renovado neste tempo pascal: Creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Esta não é apenas uma bela ideia, é a certeza enraizada em um acontecimento concreto: Jesus foi ressuscitado pelo Pai, no poder do Espírito, e nós também — unidos ao Seu Corpo pela fé, pelos sacramentos e pelo amor — seremos ressuscitados com Ele.

Neste Domingo da Divina Misericórdia, somos convidados a contemplar não apenas a vitória de Cristo sobre a morte, mas a promessa que se abre diante de cada um de nós: a vida não termina na dor, no fracasso ou no túmulo. “Oito dias depois, Jesus entrou” (Jo 20,26) — e Ele continua entrando, atravessando portas trancadas pelo medo, renovando nossa fé e reacendendo a esperança nos corações feridos deste tempo.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.