I DOMINGO DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR (Ano C)

A PALAVRA

Há acontecimentos que não se explicam apenas com palavras, precisam ser vividos, sentidos, abraçados pela fé. A liturgia deste domingo não nos convida a uma simples recordação histórica, mas a um mergulho no maior mistério da humanidade: a Ressurreição de Jesus. Não se trata apenas de um evento passado, mas de uma realidade que rompe o tempo e nos alcança hoje, aqui, neste exato momento.

É a celebração da Vida que esmaga a morte. Do Amor que desarma o ódio. Da Luz que dissipa as trevas mais densas. Mas não como uma vitória distante, e sim como uma promessa feita a cada um de nós: quem entrega sua vida por amor jamais será prisioneiro do túmulo. Porque o amor não cabe na finitude—ele é semente de eternidade.

Na Primeira Leitura (At 10,34a.37-43), Pedro, outrora frágil e vacilante, agora ergue a voz com uma coragem que só nasce do encontro com o Ressuscitado. Ele proclama que Jesus “passou pelo mundo fazendo o bem” –  quanta profundidade nessas poucas palavras! Cristo não veio para discursos vazios, mas para tocar os enfermos, levantar os caídos, perdoar os pecadores. Sua vida foi um dom tão radical que a morte não pôde retê-Lo.

E aqui está o desafio para nós: se seguimos o mesmo caminho, nossa existência também deve ser um rastro de bondade. Não um bem teórico, mas concreto, um sorriso ao solitário, um gesto de justiça onde reina a indiferença, uma mão estendida onde muitos cruzam os braços. Esse é o caminho que leva à Vida, porque já foi trilhado por Aquele que venceu a morte.

O Evangelho (Jo 20,1-9) nos coloca diante do sepulcro aberto e nos sussurra: ACREDITA. Mas como crer em um mundo que exige provas, que duvida de tudo o que não pode tocar? O verdadeiro discípulo não é aquele que precisa ver para crer, mas aquele que, por conhecer o coração de Jesus, já sabe que o amor não pode apodrecer num túmulo.

Quantas vezes, porém, nós ainda vivemos como se a Cruz fosse o fim? Quantas derrotas nos paralisam, quantas dores nos fazem duvidar? O túmulo vazio é um convite a olhar além – o fracasso não é a última palavra. Se Cristo ressuscitou, então nenhuma escuridão, nenhuma mentira, nenhum mal tem a força final. A esperança cristã não é um otimismo ingênuo, mas a certeza de que o Amor já venceu.

A Segunda Leitura (Cl 3,1-4) nos lembra que, pelo Batismo, fomos mergulhados na mesma dinâmica de Cristo: morremos para o egoísmo e renascemos para o amor. Mas isso não é um ritual mágico, é um chamado diário. Se realmente carregamos a Vida Nova em nós, ela deve transbordar em gestos que incomodam o mundo:

  • Onde há indiferença, nós servimos.
  • Onde há mentira, nós testemunhamos a Verdade.
  • Onde há desespero, nós levamos a certeza da Ressurreição.

Não somos chamados a ser perfeitos, mas a ser SINAIS – templos ambulantes de que a morte não tem a última palavra.

A Páscoa não é apenas uma festa, é um terremoto que sacode as estruturas do mundo. Se Cristo ressuscitou, então tudo pode renascer: nossos relacionamentos, nossas lutas, nossa sociedade. O mal já está derrotado; resta a nós viver como quem acredita nisso.

Que neste domingo, ao ouvirmos “Aleluia!“, não seja apenas um canto, mas um compromisso. Porque a Ressurreição não é um conto de fadas, é um chamado para que nossas vidas, aqui e agora, sejam a prova de que Ele vive.

E você? Está pronto para ser testemunha desta Vida que a morte não pode destruir?

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Ele nos revelou a Vida que vence a morte’ (Atos 10,34a.37-43), e hoje, ao recordarmos que comemos e bebemos com o Ressuscitado, somos convidados a transformar cada refeição em sagrada esperança, cada encontro em testemunho: Cristo vive e nos chama à mesa da alegria eterna!

Naqueles dias,
34a Pedro tomou a palavra e disse:
37 Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia,
a começar pela Galileia,
depois do batismo pregado por João:
38 como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus
com o Espírito Santo e com poder.
Ele andou por toda a parte, fazendo o bem
e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; 
porque Deus estava com ele.
39 E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez
na terra dos judeus e em Jerusalém.
Eles o mataram, pregando-o numa cruz.
40 Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia,
concedendo-lhe manifestar-se
41 não a todo o povo,
mas às testemunhas que Deus havia escolhido:
a nós, que comemos e bebemos com Jesus,
depois que ressuscitou dos mortos.
42 E Jesus nos mandou pregar ao povo
e testemunhar que Deus o constituiu
Juiz dos vivos e dos mortos.
43 Todos os profetas dão testemunho dele:
‘Todo aquele que crê em Jesus
recebe, em seu nome, o perdão dos pecados'”.
Palavra do Senhor.

‘Este é o dia que o Senhor fez para nós’ (Sl 117,24) – não um amanhã distante, mas hoje, agora, quando a luz da ressurreição rasga nossa rotina e nos convida a dançar de alegria, transformando até o ordinário em sacramento da divina presença!

R. Este é o dia que o Senhor fez para nós:
    alegremo-nos e nele exultemos!

1 Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! *
“Eterna é a sua misericórdia!”
2 A casa de Israel agora o diga: *
“Eterna é a sua misericórdia!” R.

16 A mão direita do Senhor fez maravilhas, *
a mão direita do Senhor me levantou,
17 Não morrerei, mas ao contrário, viverei *
para cantar as grandes obras do Senhor! R.

22 A pedra que os pedreiros rejeitaram, *
tornou-se agora a pedra angular.
23 Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: *
Que maravilhas ele fez a nossos olhos! R.

‘Buscai as coisas do alto, onde Cristo está’ (Cl 3,1) – não como fuga, mas como bússola que transfigura nosso chão: no trabalho que dignifica, no amor que santifica, em cada gesto que já antecipa a glória escondida em Deus!

Irmãos:
1 Se ressuscitastes com Cristo,
esforçai-vos por alcançar as coisas do alto,
2 onde está Cristo, sentado à direita de Deus;
aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres.
3 Pois vós morrestes,
e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.
4 Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo,
então vós aparecereis também com ele,
revestidos de glória.
Palavra do Senhor.

Cantai, cristãos, afinal:
“Salve, ó vítima pascal!”
Cordeiro inocente, o Cristo
abriu-nos do Pai o aprisco.

Por toda ovelha imolado,
do mundo lava o pecado.
Duelam forte e mais forte:
é a vida que enfrenta a morte.

O rei da vida, cativo,
é morto, mas reina vivo!
Responde pois, ó Maria:
no teu caminho o que havia?

“Vi Cristo ressuscitado,
o túmulo abandonado.
Os anjos da cor do sol,
dobrado ao chão o lençol…

O Cristo, que leva aos céus,
caminha à frente dos seus!”
Ressuscitou de verdade.
Ó Rei, ó Cristo, piedade!

O túmulo vazio não é um mistério a decifrar, mas um amor a acolher: Cristo ressuscitou como prometera, transformando nossa morte em passagem, nosso pranto em canto pascal, e toda dúvida em encontro que incendia o coração!

1 No primeiro dia da semana,
Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus,
bem de madrugada, quando ainda estava escuro,
e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo.
2 Então ela saiu correndo
e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo,
aquele que Jesus amava,
e lhes disse: 
“Tiraram o Senhor do túmulo,
e não sabemos onde o colocaram”.
3 Saíram, então, Pedro e o outro discípulo
e foram ao túmulo.
4 Os dois corriam juntos,
mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro
e chegou primeiro ao túmulo.
5 Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão,
mas não entrou.
6 Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás,
e entrou no túmulo.
Viu as faixas de linho deitadas no chão
7 e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus,
não posto com as faixas,
mas enrolado num lugar à parte.
8 Então entrou também o outro discípulo,
que tinha chegado primeiro ao túmulo.
Ele viu, e acreditou.
9 De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura,
segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
Palavra da Salvação.

Homília

CRISTO RESSUSCITOU: ESPERANÇA VIVA PARA O MUNDO

Aquele menino que nasceu em Belém, criado com ternura por Maria e José, que aos trinta anos iniciou sua vida pública sendo batizado no Jordão, e que percorreu os caminhos do mundo fazendo o bem, anunciando um Deus que é Amor e se fazendo próximo dos mais pobres — Ele foi julgado, condenado à morte na cruz, crucificado, morto e sepultado. Esse mesmo Jesus, hoje, ressuscitou.

A morte não pôde vencê-Lo. A injustiça não triunfou sobre a vítima inocente. Desde agora, todos os crucificados deste mundo podem carregar suas cruzes com esperança, pois o mesmo Deus que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará.

A primeira leitura deste domingo pascal nos convida a recordar tudo o que aconteceu desde o início da pregação de Jesus. Ela se apresenta como um verdadeiro primeiro anúncio, capaz de tocar até mesmo aqueles que jamais ouviram falar de Cristo. Ela nos mostra como Jesus viveu: servindo, curando, fazendo o bem a todos — tudo isso em um tempo e lugar concretos. Porque a Encarnação precisa deixar marcas reais na história.

São Pedro, ao falar das obras de Jesus, não esconde a reação dos homens diante de sua vida pública. O Mestre foi rejeitado. Não aceitaram Sua mensagem e decidiram, equivocadamente, que eliminá-Lo seria o fim de tudo. Os mesmos que no Domingo de Ramos aclamavam “Hosana ao Filho de Davi”, na Sexta-feira Santa gritavam “Crucifica-O!”

Mas Deus não abandonou seu Filho. Ele O ressuscitou dos mortos, iniciando assim uma nova era, em que a morte já não tem a última palavra. Pedro é testemunha disso. E nós também somos chamados a testemunhar. Os apóstolos não foram escolhidos por serem os mais santos ou os mais sábios, mas porque viveram uma experiência única e foram capazes de transmiti-la com sinceridade e coração puro. Como nós, que mesmo com nossas limitações, comungamos na Eucaristia, escutamos a Palavra, e temos tudo o que é necessário para viver uma fé coerente, encarnada e transformadora.

O breve trecho da carta aos Coríntios nos recorda uma verdade essencial: vivemos neste mundo, mas nossa plenitude está reservada ao Reino dos Céus. Só lá encontraremos respostas para as perguntas mais profundas sobre o sentido da vida e da morte.

São Paulo nos deixou um testemunho vivo. Trabalhou com as próprias mãos para não ser um peso para ninguém, mesmo sabendo que os verdadeiros tesouros são os do alto. Ele se comprometeu profundamente com o mundo, fazendo o bem, mostrando que um mundo novo é possível. Ele viveu intensamente neste mundo, para alcançar a plenitude da vida no Céu. Também nós somos convidados a fazer o mesmo: apressar-nos em praticar o bem, cada vez mais.

E então chegamos ao Evangelho. Tudo começa na escuridão. Tudo parece sem vida. Mas ao final, emerge uma certeza: O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Uma mulher, movida pelo amor, vai ao túmulo para realizar os ritos fúnebres, mas encontra a pedra removida. Corre, aflita, até Pedro e o discípulo amado. Eles, por sua vez, também correm até o túmulo.

Lá, no silêncio do sepulcro vazio, veem os lençóis e o sudário cuidadosamente dobrados. E então… creram. Ali, diante de sinais de morte, nasce a fé na Vida. Mas este caminho até a fé exige um processo — um itinerário que precisa ser iluminado pela Palavra de Deus e vivido em comunidade cristã.

Hoje, a vida recomeça. Deus recria a história. Ele nos recria. Dá-nos uma nova chance de viver melhor, de sermos melhores, de transformar o mundo e cuidar mais uns dos outros. Neste “primeiro dia da semana”, o Ressuscitado nos anuncia que é possível viver de um modo novo. Que a vida, mesmo diante das dificuldades, frustrações e quedas, tem sentido. Que o mal não tem a palavra final. Que sempre é possível ressuscitar.

Vamos acolher esta nova oportunidade. Vamos renovar nosso Batismo, nosso compromisso com Cristo e com os irmãos, sobretudo os mais pobres e necessitados. Renunciemos a tudo o que se opõe ao estilo de vida que Jesus nos ensina. Escolhamos viver com fé no Cristo ressuscitado, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Texto: ALEJANDRO, C.M.F.
Fonte: Ciudad Redonda
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.