FESTA DO BATISMO DO SENHOR

A PALAVRA

A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No Batismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projeto do Pai, Jesus fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado, empenhou-Se em promover-nos para que pudéssemos chegar à vida plena.

A primeira leitura (Is 42,1-4.6-7) anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Animado pelo Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.

No Evangelho (Lc 3,15-16.21-22), aparece-nos a concretização da promessa profética veiculada pela primeira leitura: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de promovê-los e de levá-los à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.

A segunda leitura (At 10,34-38) reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A figura misteriosa e enigmática do “Servo” de que fala o Dêutero-Isaías apresenta evidentes pontos de contato com a figura de Jesus… Os primeiros cristãos – colocados perante a dificuldade de explicar como é que o Messias tinha sido condenado pelos homens e pregado na cruz – irão utilizar os cânticos do “Servo” para justificar o sofrimento e o aparente fracasso humano de Jesus: Ele é esse “eleito de Deus”, que recebeu a plenitude do Espírito, que veio ao encontro dos homens com a missão de trazer a justiça e a paz definitivas, que sofreu e morreu para ser fiel a essa missão que o Pai lhe confiou.

Assim fala o Senhor:
1‘Eis o meu servo – eu o recebo;
eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma;
pus meu espírito sobre ele,
ele promoverá o julgamento das nações.
2Ele não clama nem levanta a voz,
nem se faz ouvir pelas ruas.
3Não quebra uma cana rachada
nem apaga um pavio que ainda fumega;
mas promoverá o julgamento para obter a verdade.
4Não esmorecerá nem se deixará abater,
enquanto não estabelecer a justiça na terra;
os países distantes esperam seus ensinamentos.’
6‘Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te
tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o
centro de aliança do povo, luz das nações,
7para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da
prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.
Palavra do Senhor.

R. Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!

1aFilhos de Deus, tributai ao Senhor,*
tributai-lhe a glória e o poder!
2Dai-lhe a glória devida ao seu nome;*
adorai-o com santo ornamento! R.

3aEis a voz do Senhor sobre as águas,*
3csua voz sobre as águas imensas!
4Eis a voz do Senhor com poder!*
Eis a voz do Senhor majestosa. R.

3bSua voz no trovão reboando!*
9bNo seu templo os fiéis bradam: ‘Glória!’
10É o Senhor que domina os dilúvios,*
o Senhor reinará para sempre! R.

Jesus de Nazaré “passou pelo mundo fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demônio”. Nos seus gestos de bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade, de amor, os homens encontraram o projeto libertador de Deus em ação… Nós, cristãos, comprometidos com Cristo e com a sua missão desde o nosso Batismo, testemunhamos, em gestos concretos, a bondade, a misericórdia, o perdão e o amor de Deus pelos homens?

Naqueles dias,
34Pedro tomou a palavra e disse:
‘De fato, estou compreendendo
que Deus não faz distinção entre as pessoas.
35Pelo contrário, ele aceita quem o teme
e pratica a justiça,
qualquer que seja a nação a que pertença.
36Deus enviou sua palavra aos israelitas
e lhes anunciou a Boa-Nova da paz,
por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos.
37Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia,
a começar pela Galiléia, depois do batismo
pregado por João:
38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus
com o Espírito Santo e com poder.
Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando
a todos os que estavam dominados pelo demônio;
porque Deus estava com ele.
Palavra do Senhor.

No episódio do Batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para libertá-los e para inseri-los numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica… É bonita esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao mundo, que pede a esse Filho que Se solidarize com as dores e limitações dos homens e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los chegar à vida em plenitude.

Naquele tempo:
15O povo estava na expectativa
e todos se perguntavam no seu íntimo
se João não seria o Messias.
16Por isso, João declarou a todos:
‘Eu vos batizo com água,
mas virá aquele que é mais forte do que eu.
Eu não sou digno de desamarrar
a correia de suas sandálias.
Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.
21Quando todo o povo estava sendo batizado,
Jesus também recebeu o batismo.
E, enquanto rezava, o céu se abriu
22e o Espírito Santo desceu sobre Jesus
em forma visível, como pomba.
E do céu veio uma voz:
‘Tu és o meu Filho amado,
em ti ponho o meu bem-querer.’
Palavra da Salvação.

Reflexão

EU VOS BATIZO COM ÁGUA

Dizem os entendidos que as festas de Natal, Epifania e o Batismo se complementam, pois nos falam da manifestação de Deus por meio do Filho e hoje, além disso, do Espírito. No texto aparece toda a comunidade trinitária: a voz do céu (O PAI), a pomba (O ESPÍRITO) e O FILHO. Não é, portanto um relato qualquer, senão um momento inicial e central na vida de Jesus. Ao ser batizado, Jesus toma consciência da missão para a qual foi chamado pelo Espírito, (missão que podemos entender lendo toda a primeira leitura de Isaías). O batismo é o nascimento aos três anos de vida pública de Jesus e a proclamação por parte do Pai: “Tu és meu Filho, o amado, o predileto”.

Eu vos batizo com água; Ele vos batizará com Espírito Santo e fogo”. Há dois tipos de batismo? Parece que sim. Sendo o batismo a porta de entrada da Igreja, o verdadeiro nascimento do cristão, não é por tanto só um rito, mais um chamado para seguir as orientações do Espírito. Em muitas ocasiões esquecemos o Espírito e o mais importante achamos que são nossas normas as que importam.

Mas fixemo-nos na segunda leitura dos Atos dos Apóstolos. Pedro teve uma visão, que como toda classe de animais impuros, mas não se atreve, chegam os homens enviados por Cornélio e o Espírito lhe diz: “vai-te com eles sem vacilar, pois Eu os enviei”. Pedro entra na casa do centurião e escutamos: “Está claro que Deus não faz distinções; aceita ao que o teme e pratica a justiça, seja da nação que seja”. Pela primeira vez, o Espírito irrompe sobre os pagãos e Pedro diz: “Talvez possa algum negar a água do batismo a estes, que receberam o Espírito como nós?”. E Cornélio e toda sua família foram batizados.

O Papa lembra-nos:

A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Batismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um premio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.  (Evangelii Gaudium, nº 47)

O essencial é que todos tenham recebido o Espírito que nos convida a um compromisso com a justiça: primeira leitura e segunda: “PASSOU FAZENDO O BEM”; a trabalhar pela unidade e reconciliação de todos os homens; à vivência da igualdade e a fraternidade. Ele é uma pomba que nos traz a liberdade interior a qual Paulo citara muitas vezes, a carne, a institucionalização, a lei, a rigidez, o formalismo. Por isso não podemos receber um batismo novo, se não nos desprendemos de nosso egoísmo, de nossos esquemas, do conforto e comodidade. Precisamos nos deixar invadir por esse VENTO que nos leva para além de nossos cálculos, tradições, teologias, códigos, pastorais. Nada pode deterá o Espírito.

O batismo é um sério compromisso como o foi para Jesus, batizar por tradição ou costume não deixa de ser uma incoerência. Mas negar a força do Espírito, é em ocasiões estar centrado demasiadamente em nós mesmos, destacar constantemente os erros alheios, não estar abertos ao perdão, à ternura, em definitiva ao Evangelho. Não é fácil o dilema; como diz o texto: “Enquanto orava, abriu-se o céu”, oremos. Talvez  a Igreja precise retirar-se um tempo para apurar-se de tanto pó acumulado, deixando-nos todos invadir pelo Espírito que sopra fortemente sobre tantos homens que amam a justiça.

Fonte: Ciudad Redonda
Imagem: Pixabay