Neste final de semana, como Igreja e como comunidade de fé, celebramos o Domingo da Palavra de Deus (III Domingo do Tempo Comum). Em todas as nossas celebrações litúrgicas, a Palavra de Deus nos alimenta espiritualmente, para prosseguirmos a nossa peregrinação para a casa do Pai, fortalecidos pelo Pão da Palavra. Ao celebrarmos o domingo da Palavra de Deus, queremos ressaltar a sua importância na nossa formação cristã e no cultivo da nossa vida de fé.
Como discípulos e discípulas do Senhor Jesus, pela graça do Santo Batismo, devemos pedir continuamente: “Mostrai-nos, ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-nos conhecer a vossa estrada” (Sl 24). Essa frase, de certa forma, reassume o sentido da vida de fé, como um percurso de busca interior, feito de erros e de confirmações, na verdade é um caminho de conversão, que pode ser percorrido com humildade, abrindo os ouvidos, mas também o coração, à graça e à misericórdia de Deus, que nos renova constantemente através do seu amor misericordioso de Pai. Sem a sua graça redentora, nós seríamos subjugados e dominados pelo pecado e perderíamos a nossa condição de filhos e filhas amados de Deus.
A Palavra de Deus nos pede para olharmos com atenção no mais profundo do nosso coração para podermos discernir todos os “desvios” que nele habitam. Eles representam uma verdadeira armadilha, que muitas vezes nos impedem de sermos nós mesmos, e principalmente nos levam a não dar o espaço necessário a Deus para escutarmos o que Ele tem a nos dizer. Essa escuta cria aquela relação com Ele que envolve o coração e é capaz de dar um novo sentido à nossa existência.
Não podemos ignorar que as tentações que destroem a liberdade e a dignidade dos filhos e filhas de Deus rondam continuamente a nossa vida de cristãos, e, às vezes, acabam por endurecer o nosso coração em relação às coisas de Deus. Acabamos aceitando o rótulo de viver como cristãos sem cruz, ou “sem a presença de Cristo”. O Evangelho, em vez de ser uma fonte inspiradora de vida e de comunhão entre irmãos que professam a fé no Senhor e nos renova através da “Palavra”, pode ser apenas um dado histórico.
O adversário das nossas almas, sempre e de todos os modos, procura confundir o nosso discernimento, fazendo parecer uma armadilha aquilo que é, na verdade, uma ligação que nos liberta e nos dá a capacidade de amar, de vivermos como irmãos em comunidade, alimentando a nossa fé com o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia, fortalecendo os laços de comunhão entre nós e com o Senhor Jesus.
Nada de novo seria possível na minha e na vossa vida, sem a disponibilidade de deixarmos que os nossos planos e os nossos costumes sejam purificados pela força libertadora do Evangelho. Com a sua palavra, mais forte do que qualquer tentação e possessão, o Senhor faz calar o mal que habita em nós. Somente assim é possível renascer em nós aquela liberdade autêntica que permite o reflorescer da nossa genuína humanidade.
Texto: DOM JOSÉ GISLON
Imagem: Thomas B. em PIXABAY
Fonte: CNBB