XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ARTIGOS

Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga (Mt 16,24) 

Celebramos neste domingo o XXII do Tempo Comum, e iniciamos hoje mais um mês, e mais um mês especial para a Igreja. Após celebrarmos o mês vocacional em agosto, nesse mês de setembro a Igreja celebra o MÊS DA BÍBLIA. Neste ano, o livro bíblico escolhido para aprofundamento é a Carta aos Efésios, com a inspiração “Vestir-se da nova humanidade!” (cf. Ef 4,24). Todos os fiéis são convidados ao longo desse mês a darem uma maior atenção à Palavra de Deus. Em nossas paróquias e comunidades, a Palavra de Deus também pode ficar em destaque ao longo desse mês, e além da abundância da proclamação da Palavra como sempre acontece em nossas liturgias e celebrações, também temos a oportunidade de aprofundar o conhecimento de um livro bíblico. 

O mês de setembro é dedicado a Palavra de Deus porque no dia 30 desse mês celebramos a memória litúrgica de São Jerônimo, que foi o responsável pela tradução da bíblia do grego e hebraico para o latim. Que ao longo do mês de setembro possamos nos reunir em família em algum momento do dia e meditar a Palavra de Deus. Não deixemos a Bíblia apenas na estante tomando pó, mas que possamos meditá-la e colocá-la em prática no dia a dia.   

No Evangelho deste domingo, Jesus diz aos discípulos tudo aquilo que iria acontecer com Ele, que seria entregue nas mãos das autoridades judaicas e que sofreria muito e seria morto, mas que no terceiro dia ressuscitaria. Pedro intervém e diz que “Deus não permita tal coisa”, e Jesus pede para que Pedro se afastasse, pois ele não pensava como Deus e sim como os homens. Pedro ainda não compreendia que era necessário que Jesus passasse pela Cruz para chegar à glória e selar de uma vez por todas a aliança de Deus com a humanidade. 

A partir do Evangelho, em nossas orações, peçamos que sempre seja feita a vontade de Deus em nossa vida e não a nossa vontade ou a vontade dos homens. Ao longo desse mês de setembro, mês da Bíblia, possamos meditá-la e rezar a Deus nessa intenção, que tudo seja feito em nossa vida segundo a vontade de Deus. 

A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do profeta Jeremias (Jr 20,7-9). O profeta usa uma bela expressão para dizer que o Senhor o seduziu e ele deixou-se seduzir pelo Senhor. Na verdade, o profeta deixou-se atrair pela Palavra de Deus, e esse é mesmo sentimento que nós devemos ter todas as vezes que meditarmos a Palavra de Deus ou todas as vezes que formos a missa e ouvirmos a Palavra e a homilia do sacerdote. 

A partir da meditação da Palavra de Deus, nos tornamos mais fortes e podemos enfrentar todos os inimigos, e do mesmo modo que todos os profetas, poderemos anunciar a justiça contida na Palavra e denunciar as injustiças. Não podemos desistir de anunciar a justiça e a verdade, quem anda sempre no caminho do bem, Deus estará sempre junto. 

O salmo responsorial é o 62(63), que diz em seu refrão: “A minh’alma tem sede de vós como a terra sedenta, ó meu Deus”! Nós devemos estar sempre sedentos da Palavra de Deus, todos os dias meditar um trecho da Bíblia, para que aquela palavra ilumine todo o nosso dia. A meditação da Palavra de Deus acalma a alma e alegra o coração, nos ajuda a tomarmos as decisões acertadas ao longo dia. 

A segunda leitura da missa é da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 12, 1-2). Paulo alerta a comunidade a seguir sempre aquilo que é certo e que agrada a Deus. O cristão católico é aquele que tem um comportamento diferente das outras pessoas, ou seja, pratica a justiça, a verdade, o amor, a paciência e a retidão. Essas coisas agradam a Deus e a partir de nossas atitudes podemos transformar a sociedade. Sejamos corajosos e não tenhamos medo de anunciar a verdade e o amor. 

O Evangelho é de Mateus (Mt 16, 21 -27). Esse trecho do Evangelho é após a transfiguração do Senhor que ouvimos há dois domingos atrás, pois domingo passado celebramos Nossa Senhora da Assunção. Jesus já começa a dizer para os discípulos o que deveria acontecer com Ele, eles já estavam próximos de Jerusalém. A vida pública de Jesus é de fato caminhar até entrar em Jerusalém, quando o povo o aclama como Rei e posteriormente sofrer a paixão, morte e ressurreição. 

Jesus sabia o que lhe aguardava, essa era a missão que recebeu do Pai e via o que as autoridades judaicas armavam contra Ele e, ainda, era necessário Jesus morrer na Cruz, para selar definitivamente a aliança de Deus com a humanidade e mostrar que a morte não tem a última palavra e do mesmo modo que Ele ressuscitou, todos nós ressuscitaremos. 

Pedro chama Jesus a parte e diz: “Deus não permita tal coisa Senhor”. Pedro ainda não havia compreendido que era necessário que Jesus morresse na Cruz para nos salvar e, pensando “humanamente”, ele não queria que Jesus sofresse, do mesmo modo, que cada um de nós não quer que um ente querido ou alguém próximo sofra. A exemplo do episódio da transfiguração, que Pedro disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui”, ou seja, Pedro já queria estar na glória, sem antes passar pelos sofrimentos dessa vida. 

Por isso, tanto Pedro, como nós, temos que pensar como Deus, e ver que é necessário passar pelos sofrimentos dessa vida para poder entrar na glória e que era necessário que Jesus morresse na cruz para nos salvar. 

Jesus conclui dizendo que quem quiser segui-lo deve renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz de cada dia e segui-lo. Ou seja, é necessário estar com Jesus nos momentos “maus” e nos “bons”, não podemos estar com Jesus somente quando está tudo bem. É preciso vencer as adversidades aqui da terra para poder adentrar na vida eterna. 

Celebremos com alegria esse XXII Domingo do Tempo Comum e peçamos ao Espírito Santo que nos oriente e nos ilumine para que possamos pensar como Deus e não como os homens e compreender a nossa missão aqui na terra, que é necessário passar pelos sofrimentos terrenos para chegar à glória eterna. 

Texto: CARDEAL ORANI JOÃO TEMPESTA
Fonte: CNBB