Depois que Jesus ressuscitou dos mortos, suas primeiras aparições foram para mulheres. POR QUÊ? Uma razão óbvia poderia ser que foram as mulheres que o seguiram até a sua morte na Sexta-Feira Santa, enquanto os homens o abandonaram em massa. Também foram mulheres, não homens, que foram ao túmulo na manhã de Páscoa, esperando ungir com especiarias o seu corpo morto; portanto, foram as mulheres que estavam no jardim quando ele apareceu pela primeira vez. Mas há – eu acredito – uma razão mais profunda e simbólica. As parteiras são mulheres. Geralmente são mulheres que cuidam do novo nascimento e mulheres que são mais adequadas para nutrir inicialmente a nova vida em sua infância.
Em qualquer parto, uma parteira pode ser útil. Quando um bebê nasce, normalmente a cabeça começa a percorrer o canal do parto primeiro, abrindo caminho para que o corpo siga. Uma boa parteira pode ser muito útil nesse momento, ajudando a facilitar esse processo através do canal do parto, garantindo que o bebê comece a respirar e ajudando a mãe no início imediato da alimentação dessa nova vida. Às vezes, uma parteira pode significar a diferença entre a vida e a morte e sempre torna o parto mais fácil e seguro.
A ressurreição de Jesus trouxe nova vida ao nosso mundo e, em sua infância, essa vida teve que ser especialmente assistida por uma parteira, tanto em seu nascimento quanto em suas primeiras respirações neste mundo. A ressurreição trouxe muitas coisas que precisavam de assistência; inicialmente pelas mulheres às quais Jesus apareceu primeiro; depois pelos apóstolos, que nos deixaram seus relatos presenciais de Jesus ressuscitado; depois, pela igreja primitiva; mais tarde, pelos seus mártires; e, finalmente, pela fé vivida de inúmeras mulheres e homens ao longo dos séculos e, às vezes, também por teólogos e escritores espirituais. Ainda precisamos de uma parteira para cuidar do que nasceu na ressurreição.
E muitas coisas nasceram desse evento; um evento tão radical como a criação original em que se deu à luz. A ressurreição de Jesus foi o “primeiro dia” pela segunda vez, a segunda vez em que a luz se separou das trevas. Aliás, o mundo mede o tempo a partir da ressurreição. Estamos no ano de 2023 depois que isso aconteceu. (O cristianismo nasceu com esse evento. Foi então que começou o novo tempo. Mas os estudiosos calcularam que Jesus tinha trinta e três anos quando morreu e, assim, adicionaram trinta e três anos para começar o novo tempo com a data de seu nascimento).
Uma coisa notável sobre o que a ressurreição dá à luz e que ainda precisa ser assistida por uma parteira, a esperança. A ressurreição ilumina a esperança. As mulheres dos Evangelhos que encontraram Jesus ressuscitado foram as primeiras a receber uma verdadeira razão para ter esperança e também as primeiras a agir como parteiras desse novo nascimento. Nós também precisamos nos tornar parteiras da esperança. MAS O QUE É ESPERANÇA E COMO ELA É ILUMINADA PELA RESSURREIÇÃO?
A verdadeira esperança nunca deve ser confundida com ilusões ou otimismo temperamental. Ao contrário da esperança, as ilusões não têm base em nada. São apenas desejos. O otimismo, por sua vez, tem suas raízes em um temperamento natural (“eu sempre vejo o lado positivo das coisas”) ou nas boas ou más notícias que recebemos em determinado dia. E sabemos como isso pode mudar de um dia para o outro. A esperança tem uma base diferente. Aqui está um exemplo:
Um colega agnóstico desafiou uma vez Pierre Teilhard de Chardin, um cientista profundamente cheio de fé, depois de fazer uma apresentação na qual tentou mostrar como a história da salvação se encaixa perfeitamente com a visão que a ciência tem sobre as origens do universo e o processo de evolução. Teilhard continuou indicando, em linha com Efésios 1, 3-10, que o final de todo o processo evolutivo será a união de todas as coisas em uma grande harmonia final em Cristo. Um colega agnóstico o desafiou: “O que você propõe é um pequeno esquema maravilhosamente otimista. Mas suponha que destruamos o mundo com uma bomba atômica. O que acontece com o seu esquema otimista então?” Teilhard respondeu com estas palavras: “Se destruirmos o mundo com uma bomba atômica, isso será um atraso, talvez de milhões de anos. Mas o que proponho vai acontecer, não porque eu deseje ou porque seja otimista de que isso acontecerá. Vai acontecer porque Deus prometeu; e na ressurreição, Deus mostrou que tem o poder de cumprir essa promessa“.
O que as primeiras mulheres que encontraram Jesus ressuscitado experimentaram foi a esperança, o tipo de esperança que é baseada na promessa de Deus para reivindicar o bem sobre o mal e a vida sobre a morte, independentemente das circunstâncias, independentemente do obstáculo, independentemente de quão terríveis as notícias possam parecer em um determinado dia, independentemente da morte em si e independentemente de sermos otimistas ou pessimistas. Elas foram as primeiras parteiras a ajudar a dar à luz a essa esperança. ESSA TAREFA AGORA É NOSSA.
Texto: RON ROLHEISER (Tradução Benjamín Elcano, cmf)
Fonte: Ciudad Redonda