A liturgia do IV Domingo do Advento diz-nos, fundamentalmente, que Jesus é o “DEUS-CONOSCO”, que veio ao encontro dos homens para lhes oferecer uma proposta de salvação e de vida nova.
Na primeira leitura (Is 7,10-14), o profeta Isaías anuncia que Jahwéh é o Deus que não abandona o seu Povo e que quer percorrer, de mãos dadas com ele, o caminho da história… É n’Ele (e não nas sempre falíveis seguranças humanas) que devemos colocar a nossa esperança.
O Evangelho (Mt 1,18-24) apresenta Jesus como a encarnação viva desse “DEUS CONOSCO”, que vem ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação. Contém, naturalmente, um convite implícito a acolher de braços abertos a proposta que Ele traz e a deixar-se transformar por ela.
Na segunda leitura (Rm 1,1-7), sugere-se que, do encontro com Jesus, deve resultar o testemunho: tendo recebido a Boa Nova da salvação, os seguidores de Jesus devem levá-la a todos os homens e fazer com que ela se torne uma realidade libertadora em todos os tempos e lugares.
Leituras
O fato decisivo, neste texto, é a afirmação de que Deus não abandona o seu Povo, mas que é e será sempre o “DEUS-CONOSCO”. A próxima celebração do nascimento de Jesus recorda e celebra esse fato fundamental: Deus ama-nos de tal forma que continua a vir ao nosso encontro… Neste tempo de espera da vinda, somos convidados a tomar consciência do amor de Deus, que se manifesta numa presença permanente a nosso lado; com Ele a dar-nos a mão e a caminhar conosco a estrada da vida, podemos enfrentar todos os desafios.
quer venha das alturas do céu”.
será que achais pouco incomodar os homens
e passais a incomodar até o meu Deus?
e lhe porá o nome de Emanuel.
Palavra do Senhor.
Quem subirá até o monte do Senhor, quem ficará em sua santa habitação?
R. O rei da glória é o Senhor onipotente;
abri as portas para que ele possa entrar!
A primeira coisa que convém ter em conta, a partir da Segunda Leitura, é que Jesus Cristo veio ao mundo para apresentar aos homens um PROJETO DE SALVAÇÃO; esse projeto é o caminho seguro para deixarmos cair as cadeias que nos oprimem e para chegarmos à vida plena que Deus nos quer oferecer. Neste tempo de Advento, esperamos a salvação de Deus, que vem ao nosso encontro oferecer-nos a vida nova.
dos mortos, Jesus Cristo, Nosso Senhor.
a fim de podermos trazer à obediência da fé
todos os povos pagãos,
para a glória de seu nome.
graça e paz da parte de Deus, nosso Pai,
e de nosso Senhor, Jesus Cristo.
Palavra do Senhor.
Esse Jesus que esperamos é – de acordo com a catequese que a primitiva comunidade cristã nos apresenta por intermédio de Mateus – o “DEUS QUE VEM AO ENCONTRO DOS HOMENS”, para lhes oferecer a salvação. A festa do Natal que se aproxima deve ser o encontro de cada um de nós com este Deus; e esse encontro só será possível se tivermos o coração disponível para acolhê-LO e para abraçar a proposta que Ele nos veio fazer.
a José, e, antes de viverem juntos,
ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.
resolveu abandonar Maria, em segredo.
e lhe disse: “José, Filho de Davi,
não tenhas medo de receber Maria como tua esposa,
porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo.
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”.
Ele será chamado pelo nome de Emanuel,
que significa: Deus está conosco”.
e aceitou sua esposa.
Palavra da Salvação.
REFLEXÃO
SÃO JOSÉ DO SILÊNCIO. O SILÊNCIO DE JOSÉ
Bem, aqui me tens. Sou José. O mesmo de seus altares e presépios, e de suas afetuosas devoções. O mesmo. Mas falo com você desde o “ano zero” de nossa era. Sem o “são” todavia, queria dizer, com cheiro de madeira, cola e serragem. Como foi tudo isso em Belém? O que eu senti? O que penso agora de tudo isso? O que, o que…? Eu também estava cheio de perguntas. Porque… imagine os sentimentos que surgem quando as coisas normais da vida são alteradas de surpresa, acontecem “à margem”, sem te consultar, sem te dizer uma palavra, sem contar…
Imagine quando um dia você acorda e começa a perceber que coisas “estranhas” estão acontecendo perto de você, em sua própria vida… e você não sabe o que esperar. Porque essa foi a minha experiência: encontrei-me envolvido em um projeto divino do qual não fazia ideia e do qual não havia sido consultado anteriormente.
Pelo menos pediram licença a Maria, minha mulher, pediram-lhe um SIM.
Mas não me ofereceram nada, não me informaram. Descobri quando tudo já estava em andamento, sendo cumprido. Deus contou comigo para seu projeto… sem pedir meu consentimento.
Os caminhos de Deus são muito desconcertantes!
Bem, só posso dizer que o meu foi… calar! Decidi ficar em silêncio, não fazer perguntas e cuidar de tudo.
Você não sabe que nada completa, realça e protege tanto a PALAVRA quanto o SILÊNCIO?
Aceitei colaborar em um projeto que não era meu, mas de Deus. Eu confiava que Ele saberia o que estava fazendo e as razões que Ele poderia ter para me escolher.
Então abri os olhos surpreso com o acontecimento, e aceitei. Eu não poderia explicar como tudo isso poderia ter acontecido.
E tomei a decisão que me pareceu mais lógica e coerente: afastar-me e abandonar secretamente Maria. Bem, como eu iria cuidar de uma criatura que não era minha, que vinha diretamente de Deus? Não teria sido “justo”. E eu nunca teria ousado ir aonde eles não me chamam. E menos para impedir a Deus.
Mas… foi Ele quem me chamou e me meteu na “confusão”.
Meu papel, minha tarefa consistiria “apenas” em guardar, defender, proteger e acompanhar A PALAVRA.
Eu não entendia porque era precisamente eu quem era amado por aquela mulher encantadora chamada Maria. (A verdade é que o amor responde a poucas explicações e justificativas: o amor é porque é). Eu nem entendia como no ventre da mulher mais pura que se pode sonhar brotou uma nova vida. Também não entendia como a Lei poderia me ordenar a denunciar e apedrejar o ser mais gentil que alguém poderia encontrar. Não cabia a mim fazer julgamentos.
Eu não entendia por que os estalajadeiros e parentes de Belém nos davam, um após o outro, com a porta na cara, quando apenas pedíamos algo tão essencial, um pouco de abrigo para uma mulher em trabalho de parto.
Eu também não entendia nada, foi quando no meio da noite tudo se iluminou naquele pobre estábulo e, de repente, me vi com aquela criança nos braços. O Rei dos Reis e Senhor dos Senhores nasceu tão pequeno, e em berço tão miserável como aquele. Como eu poderia entender que Deus Todo-Poderoso viria dessa maneira?
Porém, por que eu tinha que entender tudo? Os homens têm o hábito de querer saber tudo, raciocinar tudo, perguntar tudo. E não apenas coisas humanas, mas também coisas divinas. Queremos colocar Deus em nossas cabeças, dominá-lo, controlá-lo, comprovar sua existência…
Mas depois de ver os acontecimentos de Deus… tive que deixar mais espaço para a surpresa, a contemplação, o silêncio e confiança!
Claro que eu tinha uma vantagem sobre vocês: bastava eu olhar para ela. Para Maria. Que paz, que ternura, que naturalidade, com sorriso sempre nos lábios! Mas acima de tudo, QUE FÉ A SUA! Como não ficar feliz -mesmo nos momentos super desconfortáveis, desconcertantes apressados que estávamos passando-, ao vê-la confiante e feliz?
Por isso posso afirmar que NÃO EXISTE FÉ FÁCIL, fé sem dúvidas, fé sem obscuridades, fé sem poder entender tantas coisas.
Ser crente é deixar-se guiar por Deus. Ser crente é quebrar planos pessoais e aceitar os planos de Deus. Ele já sabe quem chama e para quê. Surge no meio do seu dia a dia, trazendo outros projetos, bem melhores que os nossos…
Muitas vezes tive medo de não saber interpretar bem o papel que Deus me confiou. Fiquei com medo de estragar a melhor obra de arte que Deus tentou fazer na terra, quando Ele colocou Maria e Jesus em minhas mãos!
A verdade é que, tal como contou comigo, tem continuado a fazer tantas vezes, com muitas outras pessoas. Foi colocado nas mãos dos discípulos naquela Santa Ceia. Apesar de terem tantos medos, tantas incompreensões, tantas inseguranças, tantas dúvidas.
E continua a fazê-lo convosco em cada Natal, em cada Eucaristia, em cada pobre que procura acolhida e abrigo. A vossa tarefa é a mesma que a minha: guardar, defender, proteger, acompanhar A PALAVRA. A Palavra que é Emanuel, e a Palavra que se fez carne em cada ser humano frágil e necessitado.
Não deixe de olhar para María em silêncio, como eu sempre gostava de fazer. Ela acolheu o Menino com muito carinho, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura. Faça você o mesmo. Não se esqueça que Deus sempre se aproxima de nós “muito pequeno”, muito fraco, de surpresa. Que o “pedacinho” que temos de Deus (como o da Eucaristia) é -quase sempre- muito pouco quando é colocado em nossas mãos. E tão carente de tantos cuidados!
E o que você pode aprender comigo? Calem-se, filhos, calem-se… A começar por estes dias de tanto barulho, pressa e comoção… Deus só se recebe no silêncio, calado, contemplando e maravilhando-se com os caminhos de Deus… E como Maria e como eu mesmo… dando o nosso humilde e trêmulo “SIM“.
Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega cmf, a partir do texto de Revista Orar (Monte Carmelo)
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)