A liturgia deste II DOMINGO DO ADVENTO convida-nos a despir esses valores efêmeros e egoístas a que, às vezes, damos uma importância excessiva e a realizar uma revolução da nossa mentalidade, de forma que os valores fundamentais que marcam a nossa vida sejam os valores do “Reino”.
Na primeira leitura (Is 11,1-10), o profeta Isaías apresenta um enviado de Jahwéh, da descendência de Davi, sobre quem repousa a plenitude do Espírito de Deus; a sua missão será construir um reino de justiça e de paz sem fim, de onde estarão definitivamente banidas as divisões, as desarmonias, os conflitos.
No Evangelho (Mt 3,1-12), João Batista anuncia que a concretização desse “Reino” está muito próxima… Mas, para que o “Reino” se torne realidade viva no mundo, João convida os seus contemporâneos a mudar a mentalidade, os valores, as atitudes, a fim de que nas suas vidas haja lugar para essa proposta que está para chegar… “AQUELE QUE VEM” (Jesus) vai propor aos homens um batismo “no Espírito Santo e no fogo” que os tornará “filhos de Deus” e capazes de viver na dinâmica do “Reino”.
A segunda leitura (Rm 15,4-9) dirige-se àqueles que receberam de Jesus a proposta do “Reino”: sendo o rosto visível de Cristo no meio dos homens, eles devem dar testemunho de união, de amor, de partilha, de harmonia entre si, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis, a exemplo de Jesus.
Leituras
Para nós, cristãos, Jesus Cristo é o “Messias” que veio tornar realidade o sonho do profeta. Ele iniciou esse “Reino” novo de justiça, de harmonia, de paz sem fim… Cheio do Espírito de Deus, Ele passou pelo mundo convidando os homens a tornarem-se “filhos de Deus” e a viverem no amor, na partilha, no dom da vida… Nós, seguidores de Jesus, temos dado um contributo efetivo para que o “Reino” se torne realidade?
espírito de conselho e fortaleza,
espírito de ciência e temor de Deus;
nem decidirá somente por ouvir dizer;
fustigará a terra com a força da sua palavra
e destruirá o mau com o sopro dos lábios.
o bezerro e o leão comerão juntos
e até mesmo uma criança poderá tangê-los.
o leão comerá palha como o boi;
e o menino desmamado
não temerá pôr a mão na toca da serpente.
a terra estará tão repleta do saber do Senhor
quanto as águas que cobrem o mar.
hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada.
Palavra do Senhor.
Todos os povos serão nele abençoados, todas as gentes cantarão o seu louvor!
R. Nos seus dias a justiça florirá.
Todos os povos serão nele abençoados, *
A comunidade cristã, como rosto visível de Cristo no mundo, tem de ser o lugar do amor, da partilha fraterna, da harmonia, do acolhimento. No entanto, com bastante frequência encontramos comunidades onde os irmãos estão divididos: criticam os outros de forma avulsa, tomam atitudes agressivas que afastam os mais débeis, discriminam aqueles que não entram na sua “panelinha”, estão aferrados ao poder e fazem tudo para dominar os outros e para afirmar a sua superioridade… Isto acontece na minha comunidade? Eu tenho algumas responsabilidades nessa situação?
O que posso fazer para mudar as coisas?
para que, pela nossa constância
e pelo conforto espiritual das Escrituras,
tenhamos firme esperança.
outros, como ensina Cristo Jesus.
e Pai do Senhor nosso, Jesus Cristo.
para honrar a veracidade de Deus,
confirmando as promessas feitas aos pais.
como está escrito:
“Por isso, eu vos glorificarei entre os pagãos
e cantarei louvores ao vosso nome”.
Palavra do Senhor.
A questão dominante que o Evangelho de hoje nos apresenta é a da CONVERSÃO. Não é possível acolher “aquele que vem” se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preocupação com os bens materiais… É preciso, portanto, uma mudança da nossa mentalidade, dos nossos valores, dos nossos comportamentos, das nossas atitudes, das nossas palavras; é preciso um despojamento de tudo o que rouba espaço ao “Senhor que vem”. Estou disposto a esta mudança, para que no meu coração haja lugar para Jesus? O que é que, prioritariamente, deve mudar na minha vida?
preparai o caminho do Senhor,
endireitai suas veredas!”
comia gafanhotos e mel do campo.
vinham ao encontro de João.
“Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou
a fugir da ira que vai chegar?
Deus pode fazer nascer filhos de Abraão.
será cortada e jogada no fogo.
é mais forte do que eu.
Eu nem sou digno de carregar suas sandálias.
Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
e recolher seu trigo no celeiro;
mas a palha ele a queimará
num fogo que não se apaga”.
Palavra da Salvação.
REFLEXÃO
ESTAMOS NOS PREPARANDO PARA A VINDA DO SENHOR?
Ocorre-me começar com uma pergunta que tenho feito a mim mesmo nestes dias: Estou realmente convencido de que “o Senhor está voltando”? Cantamos repetidamente nestas semanas do Advento: “VEM, SENHOR, NÃO DEMORES”. E já há mil luzes acesas nas ruas. E nós somos rápidos com horários e compras… E o Profeta do Advento grita:
“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. “PREPARAI o caminho do Senhor, pavimentai as suas veredas”.
Devemos lembrar que o que nós, cristãos, celebramos no Natal não é simplesmente que, há dois mil e meio anos, o Senhor nasceu em Belém de Judá. Não é uma simples memória. É uma afirmação de fé: Desde aquela noite na gruta, na manjedoura, existe um “DEUS-CONOSCO“, existe um Deus que faz parte da nossa história, dos nossos caminhos, existe um Deus que vive minha vida comigo, com quem me encontro a sós, com quem mantenho um dialogo e cuja missão é ajudar-me a viver uma vida com sentido, que valha a pena, da qual me orgulhe, na qual consiga ser feliz.
É quando a Igreja nos convida a celebrar neste tempo, e nos encorajar a abrir, agir (CONVERSÃO) para renovar aquela vinda e nossa acolhida pessoal do Senhor. Não necessariamente “o Senhor virá” precisamente em 25 de dezembro. O Senhor vem continuamente ao nosso encontro, nas mil situações da nossa vida… e devemos saber reconhecê-lo e acolhê-lo. É que não aconteça como ocorreu com o estalajadeiro de Belém: batemos a porta na cara dele porque não temos mais lugar. Ou como os Sacerdotes do Templo: eles “sabem”, sabem que vem, sabem onde… mas não se dão ao trabalho de ir ao seu encontro. Melhor que sejamos como os pastores, como os Magos do Oriente. Melhor ainda, como JOSÉ E MARIA.
Só se tivermos fé, confiança, a certeza de que “Deus vem” fará sentido para nós celebrarmos estas festas. Não é incomum que nossa vida se torne um pouco “deserta”. Como aquele que escolhe o Batista como seu “tribuno”. Porque são muitas as circunstâncias pessoais, sociais, políticas, pessoais… que tudo arrasam.
QUANDO HÁ DESERTO, HÁ SOLIDÃO, ficamos sozinhos, nos perdemos. Será necessário, então, começar a traçar/preparar caminhos para poder reencontrar-se com as pessoas e com Deus, de forma mais profunda, mais satisfatória, menos “disfarçada” e mais sincera.
Quando nos encontramos no deserto, A VIDA SE TORNA MUITO DIFÍCIL. Será necessário realizarmos alguns trabalhos de “engenharia” para que nossa vida não murche e seja frutífera, gere vida ao nosso redor, encontros, brotos no velho tronco, ilusões, projetos…
No deserto é MUITO FÁCIL SE PERDER. Bem sabemos que nestas circunstâncias não sabemos para onde ir, o que decidir, com quem contar… e nunca é bom andar tropeçando e gastando inutilmente as nossas poucas forças. Teremos que nos perguntar como traçar um caminho, selecionar alguns objetivos ao nosso alcance, perguntar, pensar com calma, orar…
As MIRAGENS abundam no deserto: aqueles lugares “maravilhosos” que parecem ter tudo o que a nossa sede infinita necessita… Às vezes as miragens nos oferecem desde fora (tantos vendedores de fumaça nos cercam…) e outras vezes nos enganamos a nós mesmos. Nestes casos, a palavra mais apropriada será “discernir“.
Então? João Batista nos diz que mudanças devem ser feitas:
CONVERTEI-VOS, PORQUE O REINO DOS CÉUS ESTÁ PRÓXIMO.
Por isso é necessário encontrar um espaço e um tempo para que cada um veja o que tem que preparar e como tem que se preparar para que esse deserto deixe de ser deserto, para sair dele, para que o Senhor passe, através de nossas vidas novamente, e permaneça nela.
Algumas pistas simples e confusas, apenas para sugerir:
- Limpar bem a nossa casa/habitação, jogando fora todo o lixo acumulado, procurando pôr as coisas em ordem, desfazendo-nos daquilo que nos incomoda e não nos deixa à vontade com nos mesmos. Mudar ou suprimir hábitos, atitudes, manias, critérios, talvez pessoas específicas… Tente superar confrontos pessoais e familiares. A RECONCILIAÇÃO com Deus e com a sua Igreja seria uma ajuda maravilhosa.
- Preparar um Belém (presépio) com amor, com detalhes, mesmo que sejam simples… mas não como um “adorno”, mas como um lugar para meditar e rezar um pouco todos os dias. Para dialogar com o Deus do berço, e com todos os personagens que o acompanham. E se não, pelo menos pare em uma das que estão instaladas em diferentes lugares perto de sua casa e dedique-se a contemplar em silêncio e orar.
- Certifique-se de que os “comidas ceias” em que participamos e preparamos, tenham antes uma oração cuidadosa que lembre a todos o que realmente estamos celebrando.
- Faça a firme resolução de ler (todos os dias) calmamente algumas passagens da Escritura. Melhor se forem os sugeridos pela Liturgia da Igreja, porque são cuidadosamente selecionados para este tempo. São Paulo nos indica hoje: “tudo o que outrora foi escrito, foi escrito para nossa instrução, para que, pela nossa constância e pelo conforto espiritual das Escrituras, tenhamos firme esperança”. Existem livros que acompanham essas passagens com uma breve reflexão. Embora muito melhor se essa reflexão/oração nós mesmos fizermos.
- Reveja cuidadosamente nossas despesas nesses dias. Não nos deixemos enganar por miragens nem pelo ambiente. É uma contradição celebrar “DEUS QUE NASCEU POBRE ENTRE OS POBRES” jogando a casa pela janela (embora a crise nos obrigue a fazer alguns cortes) e nos empanturrar de coisas que, no fundo, absolutamente não necessitamos. E melhor ainda se destinarmos uma pare das nossas despesas a uma Associação ou causa a favor dos mais necessitados.
- Revise as nossas listas de contatos e façamos uma oração personalizada para cada uma das pessoas de quem gostamos. E reflita, pela mão de Deus, se é conveniente uma visita tranquila, ou ter algum detalhe especial… ou o que for, porque talvez os tenhamos um pouco negligenciados. E não penso apenas naqueles de quem nos lembramos “apenas” no Natal, porque não “NEGLIGENCIADO” os mais próximos.
- Procure escutar mais e falar menos. Ser mais consciente dos outros, e um pouco menos de nós mesmos. Não deixe que a Televisão e as Redes invadam nosso tempo livre: Melhor passear juntos, preparar comida juntos, ou lavar a louça juntos, ao invés de colocar a máquina de lavar louça; é melhor ir à missa juntos num dia dedicado ao nascimento de nosso Salvador. Melhor enviar alguns parabéns (mesmo que seja por celular) que não incluam aquelas “frases atuais”, que não percamos umas “boas festas”, porque o que nós cristãos celebramos não são “festas”, mas o Natal do Senhor , e quando pudermos, inclua uma frase das Escrituras, uma oração simples, algo que valha a pena. “NOSSOS” não são gatos, elfos, meias ou chapéus vermelhos, etc.
Não há necessidade de continuar. Cada um escolhe um destes ou outros que o vão ajudar.
Apenas lembre-se: O que importa “para nós” nos dias de hoje é “preparar o caminho PARA O SENHOR“.
É o próprio Senhor que vem nos pedir para lhe oferecer um (melhor) lugar em nossas vidas. Ele não pede muito: Você já sabe que daquela vez ele se contentou com uma caverna e uma manjedoura.
E será ótimo que este Natal seja “FELIZ” porque algo/Alguém renasceu em nós.
Texto: QUIQUE MARTÍNEZ DE LA LAMA-NORIEGA, CMF
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)