A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor…
A primeira leitura (Ex 32,7-11.13-14) apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à infidelidade do Povo. Neste episódio – situado no Sinai, no espaço geográfico da aliança – Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
Na segunda leitura (1Tm 1,12-17), Paulo recorda algo que nunca deixou de espantá-lo: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
O Evangelho (Lc 15,1-32) apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do “FILHO PRÓDIGO”, em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, e o faz reentrar em sua casa e faz uma grande festa para celebrar o reencontro.
Leituras
Antes de tudo, o texto sublinha a lealdade de Deus para com o seu Povo, a “justiça” que marca a relação de Jahwéh com Israel (entendida como fidelidade aos compromissos assumidos por Deus para com os homens). Fica, aqui, claro que a essência de Deus é esse amor gratuito que Ele derrama gratuitamente sobre os homens, qualquer que seja o seu pecado… Deus ama infinitamente, seja qual for a resposta do homem; e esse amor nunca será desmentido. É à luz desta perspectiva que devemos encarar
Deus e a sua relação conosco.
que tiraste da terra do Egito.
Fizeram para si um bezerro de metal fundido,
inclinaram-se em adoração diante dele
e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo:
‘Estes são os teus deuses, Israel,
que te fizeram sair do Egito!'”
Mas de ti farei uma grande nação”.
se inflama a tua cólera contra o teu povo,
que fizeste sair do Egito
com grande poder e mão forte?
‘Tornarei os vossos descendentes
tão numerosos como as estrelas do céu;
e toda esta terra de que vos falei,
eu a darei aos vossos descendentes
como herança para sempre'”.
Palavra do Senhor.
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor!
R. Vou agora, levantar-me, volto à casa do meu pai.
3 Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
12 Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.
17 Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!
Antes de mais, somos convidados a tomar consciência do amor que Deus oferece a todos os homens, sem exceção, sejam quais forem as suas faltas… Foi esse Deus que Paulo experimentou e que testemunhou; é esse, também, o Deus que
experimentamos e testemunhamos?
pela confiança que teve em mim
ao designar-me para o seu serviço,
porque agia com a ignorância de quem não tem fé.
Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.
E eu sou o primeiro deles!
Cristo Jesus demonstrasse
toda a grandeza de seu coração;
ele fez de mim um modelo
de todos os que crerem nele
para alcançar a vida eterna.
honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!
Palavra do Senhor.
Ser testemunha da misericórdia e do amor de Deus no mundo não significa, no entanto, pactuar com o pecado… O pecado (tudo o que gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento) é mau e deve ser combatido e vencido. Distingamos claramente as coisas: DEUS CONVIDA-ME A AMAR O PECADOR e a acolhê-lo sempre como um irmão; mas convida-me também a lutar objetivamente contra o mal – todo o mal – pois ele é uma negação desse amor de Deus que eu devo testemunhar.
“Este homem acolhe os pecadores
e faz refeição com eles”.
e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la?
Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’
por um só pecador que se converte,
do que por noventa e nove justos
que não precisam de conversão.
e a procura cuidadosamente, até encontrá-la?
Encontrei a moeda que tinha perdido!’
por um só pecador que se converte”.
E o pai dividiu os bens entre eles.
E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada.
e ele começou a passar necessidade.
mas nem isto lhe davam.
e eu aqui, morrendo de fome.
e sentiu compaixão.
Correu-lhe ao encontro, abraçou-o,
e cobriu-o de beijos.
Já não mereço ser chamado teu filho’.
E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés.
E começaram a festa.
ouviu música e barulho de dança.
Teu pai matou o novilho gordo,
porque o recuperou com saúde’.
jamais desobedeci a qualquer ordem tua.
E tu nunca me deste um cabrito
para eu festejar com meus amigos.
matas para ele o novilho cevado’.
e tudo o que é meu é teu.
estava perdido, e foi encontrado'”.
Palavra da Salvação.
Fonte: Liturgia Diária – CNBB
REFLEXÃO
ESTÁ É A ATITUDE DO CRISTÃO.
Queridos irmãos,
Neste domingo, as três leituras e o salmo responsorial falam-nos do mesmo: DO PERDÃO. O perdão está no centro da mensagem cristã, diz São Paulo a Timóteo: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar aos pecadores, e eu sou o primeiro”. O tema é atual, e faz referência, às necessidades fundamentais do coração humano: ser aceito e querido incondicionalmente. É possível, que alguns sintam a necessidade de falar hoje do sacramento da penitência, mas o convite é para proclamar o amor gratuito de Deus.
Lucas no evangelho começa dizendo:
“Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo (como nós hoje). Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles (acolher e comer)”, e conta três parábolas.
Duas falam da busca e a terceira do encontro: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido encontrado. É curioso, fala-se de algo perdido, algo que é valioso e querido, mas que se extraviou. Por isso a alegria do pastor, da mulher e do pai: “Digo-vos que a mesma alegria terá entre os anjos de Deus por um só pecador que se converta”.
Algo que se quer muito se abraça, se festeja, se comunica, quando é encontrado. O Deus de Jesus é especialmente próximo, embora muitos de nós pensemos que o que se precisa é lei e ordem em nossas ações pastorais com os afastados. Vale a pena lembrar, que sem gratuidade não se cria confiança e, sem confiança, o amor não se mostra. A experiência da gratuidade é o que possibilita que a vida se manifeste como uma festa. Não porque nos impeça de ver o mal, mais como na parábola do filho prodigo, termina em um banquete. O não entender que o Pai, sempre compreende, acolhe e se alegra, seja qual seja o extravio, foi a desgraça do filho mais velho.
Corresponde a todos nos, em nossas comunidades, não ser como o filho mais velho, mais mediador como Moisés na primeira leitura:
“Então Moisés suplicou ao Senhor, seu Deus: Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo… Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel… E o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo”.
Na segunda leitura, a essa mediação, São Paulo a chamará ministério: “Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me fez capaz, confiou em mim e me confiou este ministério”. Temos o ministério de transmitir o amor que Deus nos tem, porque a cada um de nós o viveu em sua própria vida. Isto é o que faz do ministro uma testemunha, que foi perdoado, não um distribuidor do perdão.
Não se trata de ser guardiães da lei e da ordem, da justiça, do sistema, do estabelecido, do moralmente aceitável. De ser uma figura fria, longínqua, inflexível que entregou sua vida à conservação das instituições sagradas (a família, o país, a religião, a Igreja…) é o que o bem, com uma disponibilidade constante ao serviço. Trata-se, de ter em conta as circunstâncias de cada irmão, que antes podia ser: “Um blasfemo, um perseguidor e um insolente”, como diz São Paulo de si mesmo.
Lembra-nos o Papa Francisco em “Misericordiae Vultus”:
“Não julgar e não condenar significa, em positivo, saber perceber o que de bom há em cada pessoa e não permitir que deva sofrer por nosso julgamento parcial e por nossa presunção do saber tudo. No entanto, isto não é ainda suficiente para manifestar a misericórdia. Jesus pede também perdoar e dar. Ser instrumentos do perdão, porque fomos os primeiros tê-lo recebido de Deus. Ser generosos com todos sabendo que também Deus dispensa sobre nós sua benevolência com magnanimidade”.
O texto termina: “Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é teu: deveria alegrar-te, porque este irmão teu estava morto e reviveu; estava perdido, e foi encontrado”. ESTÁ É A ATITUDE DO CRISTÃO.
Texto: JULIO CÉSAR RIOJA, CMF
Imagem: MUSEUM CORNELL
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)