A liturgia deste domingo convida-nos a tomar consciência de quanto é exigente o caminho do “REINO”. Optar pelo “REINO” não é escolher um caminho de facilidade, mas sim aceitar percorrer um caminho de renúncia e de dom da vida.
É, sobretudo, o Evangelho (Lc 14,25-33) que traça as coordenadas do “caminho do discípulo”: é um caminho em que o “Reino” deve ter a primazia sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos próprios interesses e esquemas pessoais. Quem tomar contato com esta proposta tem de pensar seriamente se a quer acolher, se tem forças para acolhê-la… Jesus não admite meios-termos: ou se aceita o “REINO” e se embarca nessa aventura a tempo inteiro e “a fundo perdido”, ou não vale a pena começar algo que não vai levar a lado nenhum (porque não é um caminho que se percorra com hesitações e com “meias tintas”).
A primeira leitura (Sb 9,13-18) lembra a todos aqueles que não conseguem decidir-se pelo “REINO” que só em Deus é possível encontrar a verdadeira felicidade e o sentido da vida. Há, portanto, aí, um encorajamento implícito a aderir ao “REINO”: embora exigente, é um caminho que leva à felicidade plena.
A segunda leitura (Fm 9b-10.12-17) recorda que o amor é o valor fundamental, para todos os que aceitam a dinâmica do “REINO”; só ele permite descobrir a igualdade de todos os homens, filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo. Aceitar viver na lógica do “REINO” é reconhecer em cada homem um irmão e agir em consequência.
Leituras
Face ao contínuo cruzamento de perspectivas, de desafios, de teorias, ficamos confusos e sem saber, tantas vezes, como escolher. Por outro lado, as nossas escolhas acabam, tantas vezes, por ser condicionadas pela “mídia”, pelo politicamente correto, pela ideologia dominante, pela moda, pelos valores que as telenovelas impõem, pelas ideias das pessoas que nos rodeiam, pela filosofia da empresa que nos paga ao fim do mês… Será que esses caminhos que nos são mais ou menos impostos nos conduzem no
sentido da vida plena, da realização total, da felicidade?
o que está ao alcance de nossas mãos;
quem, portanto, investigará o que há nos céus?
e do alto lhe enviasses teu santo espírito?
e os homens aprenderam o que te agrada,
e pela Sabedoria foram salvos”.
Palavra do Senhor.
Saciai-nos de manhã com vosso amor,
e exultaremos de alegria todo o dia!
R. Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.
3 Vós fazeis voltar ao pó todo mortal, *
quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!”
4 Pois mil anos para vós são como ontem, *
qual vigília de uma noite que passou. R.
mas à tarde é cortada e logo seca. R.
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho. R.
O amor – elemento que está no centro da experiência cristã – exige ao cristão o reconhecimento efetivo da igualdade de todas as pessoas, apesar das diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. O meu comportamento para com aqueles que comigo se cruzam é sempre consequente com esta exigência? A cor da pele alguma vez me levou a discriminar alguém? O fato de uma pessoa ser pobre ou rica já alguma vez me levou a tratá-la com mais ou menos consideração? O facto de uma pessoa ser homem ou mulher já alguma vez me levou a dar-lhe mais ou menos
importância ou dignidade?
nesta prisão, que eu devo ao evangelho.
mas espontânea.
muitíssimo querido para mim
quanto mais ele o for para ti,
tanto como pessoa humana quanto como irmão no Senhor.
Palavra do Senhor.
Jesus não é um demagogo que faz promessas fáceis e cuja preocupação é juntar adeptos ou atrair multidões a qualquer preço. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação, de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente, radical, sem “paninhos quentes” ou “meias tintas”. O caminho que Jesus propõe não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção. Como é que eu me situo em face disto? O projeto de Jesus é, para mim, uma opção radical, que eu abracei com convicção e a tempo inteiro ou um projeto em que eu vou estando, sem grande esforço ou compromisso, por inércia, por comodismo, por tradição?
seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida,
não pode ser meu discípulo.
para ver se tem o suficiente para terminar?
Caso contrário,
não se senta primeiro e examina bem
se com dez mil homens poderá enfrentar o outro
que marcha contra ele com vinte mil?
envia mensageiros para negociar as condições de paz.
não pode ser meu discípulo!”
Palavra da Salvação.
Fonte: Liturgia Diária – CNBB
Reflexão
PERDER TUDO... PARA GANHAR A ESPERANÇA
Quando Alexandre Magno deixou Grécia e partiu para conquista da Ásia doou a seus amigos todo seu patrimônio pessoal; não o do estado. Um de seus amigos, Pérdicca, lhe perguntou se tinha conservado algo para si mesmo. Alexandre respondeu-lhe: “SIM, A ESPERANÇA“. Então Perdicca renunciou a sua parte e disse-lhe: “A nós, que iremos lutar contigo, a teu lado, nos deixa compartilhar a ESPERANÇA”.
VISÃO DE FUTURO
Neste caso, Alexandre Magno nos serve como ícone vivente de Jesus. Jesus veio até nós. Despojou-se de tudo. Entregou sua vida, seu corpo, sua alma. Não reservou nada para si mesmo. Unicamente a esperança, o tesouro do REINO que ia chegar e que Ele inauguraria.
Ante o futuro que nos é dado, como vale tão pouco nossas ideias, nossos sistemas, a vida que nos construímos? Só a ESPERANÇA! Essa é a força que nos dirige para o futuro, que nos indica que algo importante está incubando. Que é isso que devemos perseguir, assumindo qualquer risco.
As grandes pessoas tiveram sempre uma visão do futuro e não se deixaram se amedrontar pelas dificuldades. Souberam investir tudo para ganhar o futuro. Ser cristão é isso: APOSTAR NA ESPERANÇA, COMPARTILHAR A ESPERANÇA DE JESUS, ALIAR-SE COM O FUTURO E NÃO CULTIVAR AS FRUSTRAÇÕES DO PASSADO.
A MAIS SURPREENDENTE ALIANÇA
“Deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á a sua mulher e serão uma só carne“, dizia o Deus no Gênesis. Jesus atreve-se agora a dizer às pessoas que o seguem: que seu discípulo/discípula deverá deixar a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, a sua própria vida e se unir a Ele e formará com Ele um só ser. Paulo reconheceu isto dizendo: “NÃO SOU EU QUEM VIVE, SENÃO CRISTO É QUEM VIVE EM MIM”.
O paralelismo entre estes dois textos dá-nos a chave do entendimento. Quem casa-se não tem de menosprezar por isso o seu pai e a sua mãe. Da mesma forma quem segue Jesus não tem de menosprezar o seu pai, a mãe, a sua mulher… Jesus diz unicamente que seu discípulo ou discípula fica para sempre vinculado a Ele em ALIANÇA ETERNA.
Essa Aliança de fé e amor deve ser mantida dia após dia, para sempre. A Aliança de amor com Jesus não “esfria” o coração. Não o priva de seus afetos. Mais, o acende. JESUS VEIO TRAZER FOGO. Quem quer entrar na vida tem de honrar pai e mãe, tem de amar a seus irmãos. Na Aliança com Jesus um descobre em si uma fonte de amor surpreendente que salta até a vida eterna e se derrama sobre todos os seres queridos. A Aliança com Jesus não nos faz afastados, nos faz mais próximos.
A Aliança com Jesus é tão apaixonante que não admite “sombras”, acende todo o ser. É como encontrar um tesouro ante o qual tudo o que se tinha como riqueza, perde o sentido.
Quem se encontra com Jesus, com o verdadeiro Jesus, modifica totalmente sua vida e altera totalmente a sua escala de valores. Renuncia a “seus” bens, porque encontrou o Bem que torna tudo bom.
O CAMINHO PARA OBTER SABEDORIA
A sabedoria de quem deixa tudo para ganhar tudo. A sabedoria aconselha, no entanto, ser humildes de espírito: Quem pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode acertar com o que Deus quer? Toda reflexão humana sobre o divino é titubeante, insegura.
Deixar tudo para seguir Jesus, implica deixar nosso mundo ideológico, às vezes tão petulante, que dá a impressão de saber tudo. A verdadeira sabedoria convida-nos a ser humildes, a sentir a surpresa do mistério insondável de Deus. E pedir ao céu a sabedoria que ensina tudo, mas que só é concedida aos humildes e simples. Quem renúncia ao conhecimento arrogante, será conquistado pela sabedoria de Deus. O seguidor de Jesus converte-se então em seguidor da Sabedoria.
QUEM SEGUE JESUS NÃO PERDE SEU MUNDO EMOCIONAL
Não estamos acostumados a receber confidencias dos que nos governam. Quase sempre nos guiam com a verdade: com ideias, com argumentos; muito poucas vezes ou quase nunca põem sobre a mesa seu coração, seus sentimentos.
Os Pais da Igreja, ao menos alguns deles, puseram em seus escritos muita emoção. Hoje temos um exemplo evidente: a carta do apóstolo Paulo a Filêmon.
Alguém talvez pudesse pensar que esta carta não teria que ter sido integrada ao grupo dos livros canônicos do novo testamento. E, no entanto, é um texto revelado, inspirado! O Espírito demonstra-nos através dele que a linguagem da emoção manifesta o Mistério de Deus. Fixemo-nos nas palavras e expressões que Paulo emprega: “APELO A TEU AMOR“, “ELE É COMO SE FOSSE O MEU PRÓPRIO CORAÇÃO”, “COMO UM IRMÃO QUERIDO“.
Paulo era um homem que amava apaixonadamente. Não tinha receio em manifestar seus sentimentos, suas emoções, sua paixão. É assim como se dirige à Igreja de Deus: com o coração, com o amor apaixonado, superando o império da lei.
Texto: JOSE CRISTO REY GARCIA PAREDES
Imagem: PIXABAY
Fonte: Missionários Claretianos (Ciudad Redonda)