Certa vez, um colega desafiou Pierre Teilhard de Chardin (padre jesuíta, teólogo e filósofo francês) com esta pergunta: “Você acredita que, no final, o bem triunfará sobre o mal. Bem, o que acontecerá se explodirmos o mundo com uma bomba atômica, o que será da bondade então?” Teilhard respondeu assim:
“Se explodirmos o mundo com uma bomba atômica, será um revés de dois milhões de anos; mas a bondade triunfará sobre o mal, não porque eu queira, mas porque DEUS PROMETEU e, na ressurreição, Deus demonstrou que tem o poder de cumprir essa promessa. É certo. Exceto pela ressurreição, não temos garantias de nada. Pode ser que as mentiras, a injustiça e a violência finalmente triunfem. Certamente foi assim no dia em que Jesus morreu.
Jesus foi um grande mestre de moral; e seus ensinamentos, se seguiram… transformaram o mundo. Simplificando, se todos nós vivêssemos o Sermão da Montanha (conjunto de ensinamentos principais que Jesus deu aos seus discípulos), nosso mundo seria acolhedor, pacífico e justo; mas o interesse próprio frequentemente resiste ao ensino moral. Nos Evangelhos, vemos que não foi o ensino de Jesus que influenciou os poderes do mal e, por fim, revelou o poder de Deus. Isso não. Ao contrário, o triunfo da bondade e o poder supremo de Deus foram revelados por meio de sua morte, por um grão de trigo que caiu no chão e morreu, dando assim muito fruto. Jesus alcançou a vitória sobre os poderes do mundo de uma forma que parece a antítese de todo poder. Ele não dominou ninguém com qualquer força intelectualmente superior ou persuasão mundana. Não, ele revelou o poder superior de Deus simplesmente afirmando-se na VERDADE E NO AMOR, embora as mentiras, ódio e poder egoísta o crucificassem. Os poderes do mundo o levaram à morte, mas ele confiou que de alguma forma Deus o vindicaria, que Deus teria a última palavra. Deus o RESSUSCITOU dentre os mortos como um testemunho de que ele estava certo e os poderes do mundo estavam errados, e que a virtude e o amor sempre teriam a última palavra.
Essa é a lição. Nós também devemos confiar que Deus dará a verdade e o amor dará a última palavra, independentemente de como as coisas aparecem no mundo. O julgamento de Deus sobre os poderes deste mundo não tem o mesmo resultado de um filme de Hollywood, onde os ímpios são finalmente executados por uma força moralmente superior e nos desfrutamos de uma catarse. É assim que funciona: todos são julgados pelo Sermão da Montanha, embora o interesse próprio geralmente rejeite esse julgamento e pareça escapar impune. No entanto, há um segundo julgamento de que todos se submeterão à RESSURREIÇÃO. No final do dia, que não é exatamente como o final do dia em um filme de Hollywood, Deus levanta de seu túmulo a verdade e o amor, e lhes dá a última palavra. Finalmente, os poderes do mundo se submeterão a esse julgamento final.
Sem a RESSURREIÇÃO, não há garantia de nada. É por isso que São Paulo diz: que se Jesus não ressuscitou, então somos os mais desafortunados de todos. É certo. A crença de que as forças da falsidade, do interesse próprio, da injustiça e da violência irão finalmente converter e renunciar ao seu domínio mundano pode às vezes parecer uma possibilidade em certa noite, quando as notícias do mundo parecem melhores. No entanto, como aconteceu com Jesus, não há garantia de que esses poderes finalmente deixarão de vir e crucificarão quase tudo que é honesto, bom, justo e pacífico em nosso mundo. A história de Jesus e a história do mundo testificam o fato de que não podemos colocar nossa confiança nos poderes do mundo, mesmo quando eles podem parecer confiáveis por um tempo. Os poderes do interesse próprio e da violência crucificaram Jesus. Eles têm feito isso há muito tempo e continuaram a fazê-lo muito depois. Esses poderes não serão derrotados por nenhuma violência moral superior, mas por viver o Sermão da Montanha e confiar que Deus rolará a pedra de qualquer túmulo em que nos enterrem.
Muitas pessoas, talvez a maioria, acreditem que existe um arco moral para a realidade, que a realidade se inclina para o bem sobre o mal, o amor sobre o ódio, a verdade sobre a mentira e a justiça sobre a iniquidade, e aponta que a história mostra isso, embora o mal possa triunfar por algum tempo, a realidade finalmente se retifica e A BONDADE VENCE NO FINAL, sempre. Alguns chamam isso de lei do carma. Há muita verdade nessa crença, não apenas porque a história parece confirmá-la, mas porque, quando Deus fez o universo, Ele fez um universo orientado para o amor, e assim Deus escreveu o Sermão da Montanha não apenas no coração humano, mas também no verdadeiro DNA do próprio universo. A criação física sabe como se curar, e também a criação moral. Desse modo, o bem deve sempre triunfar sobre o mal; mas, mas… dada a liberdade humana, não há garantias, exceto para a promessa que nos é dada na RESSURREIÇÃO.
Texto: RON ROLHEISER (Tradução Benjamín Elcano, cmf)
Imagem de Dr StClaire em Pixabay
Fonte: Comunidade católica Ciudad Redonda (Missionários Claretianos)