Pode parecer pouco sério falar da “magia” de um grande missionário, de um grande santo. Mas por que não recorrer a este termo para explicar o inexplicável? Por que não dar a esta palavra toda a força que espontaneamente se lhe concede quando dizemos: “Isto que está acontecendo é mágico!”, “Esta paisagem tem magia!”, “Somente um mágico pode solucionar isto!”? Talvez seja a palavra que melhor expressa o que chamamos de “CARISMA”, “conexão divina”. Por isso, permita-me, neste dia de São Antônio Maria Claret, contemplá-lo sob esta perspectiva.
A MAGIA “ONTEM”
Houve, em toda a sua vida, um acento “mágico”. Lembro-me de quando era criança e, na cidade de Sigüenza, os jovens missionários claretianos representavam uma peça teatral intitulada O Sangue do Arcebispo. Todo o enredo girava em torno do atentado de Holguín, que Antônio Maria Claret sofreu sendo arcebispo de Cuba, durante uma de suas visitas pastorais. Aquela representação teatral tinha magia. Em minha casa — meus irmãos e eu — a encenávamos muitas vezes. Em Sigüenza, os jovens claretianos também evocavam a figura do Padre José María Ruiz Cano, hoje beatificado. Não se podia desconectar a magia desses dois acontecimentos, que, em vez de deprimir, estimulavam a vocação missionária.
À medida que nos aprofundamos na vida e nos escritos desse homem, descobrimos surpresas, paisagens emocionantes, interpelações sobrenaturais, portentos milagrosos, impulsos missionários e um fogo inextinguível de amor. A vida de Claret se revestiu de uma espécie de ‘magia’, como se fossem ‘florezinhas’ — não franciscanas, mas claretianas. O povo de Deus contava inúmeras histórias sobre ele, e sua fama se propagava entre as pessoas simples. Diziam que ele silenciava demônios, curava doenças e previa o que iria acontecer.
E ele, Claret, nos colocou em contato com sua magia interior: sua conexão com Maria – Ela a lançadora e ele a lança –, com Jesus – nove anos presente eucaristicamente nele –, sua missão apocalíptica, identificando-se com o Anjo, e seus missionários com os sete trovões. Sua era uma magia de compaixão, de missão excêntrica para o mundo todo, de sonhos sem fronteiras. Ao seu redor, a “conversão”, a transformação interior, acontecia facilmente… E tudo acontecia magicamente, como por arte de encantamento: “O Espírito de Deus está sobre mim.”
A MAGIA “HOJE”
A magia de Claret está hoje humildemente espalhada por todo o mundo. O Papa Francisco nos disse, na Audiência aos participantes do penúltimo Capítulo Geral: “Os claretianos são encontrados em todos os lugares”. A magia de Claret é descoberta em novas gerações de jovens missionários, que sentem a sedução de seu carisma nos cinco continentes… A magia de Claret se globalizou e silenciosamente se tornou outro dos magníficos e estranhos recursos do Espírito para fazer com que o Reino de Deus surja onde a vida parece ameaçada e Deus não é conhecido, amado e servido.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU