XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)

A PALAVRA

Neste XXII Domingo do Tempo Comum, somos convidados a mergulhar profundamente na essência da “Lei de Deus“, que é muito mais do que simples normas a serem seguidas. Deus, em Sua infinita sabedoria e amor, nos oferece orientações divinas, não para nos aprisionar em legalismos, mas para nos guiar com amor no caminho que leva à verdadeira Vida.

Moisés, na Primeira Leitura (Dt 4,1-2.6-80, fala ao povo que experimentou a libertação do Egito. Ele os exorta a não apenas escutar, mas também acolher e viver as leis e preceitos divinos. Este convite é para que se deixem conduzir por Deus, pois apenas assim alcançarão a liberdade e a Vida abundante que tanto almejam. Não é uma obediência cega ou meramente ritualística que nos salvará, mas a abertura sincera ao que Deus nos propõe, acolhendo Sua palavra como um guia seguro em nossa jornada.

Jesus, no Evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23), alerta para os perigos de uma religiosidade vazia, que se apega a regras exteriores e se esquece do coração do Evangelho: o amor e a misericórdia. Ele nos chama a olhar para além das aparências e a não absolutizar a Lei de maneira que nos distancie do encontro autêntico com Deus. A Lei deve ser um auxílio, um mapa que nos orienta, mas jamais um fim em si mesma. O que realmente importa é o estado do nosso coração, o desejo genuíno de amar e servir ao Senhor.

São Tiago, na Segunda Leitura (Tg 1,17-18.21b-22.27), nos recorda que todo dom perfeito vem de Deus, e que esse dom é a “palavra da verdade“, a Palavra evangélica que nos gera para uma Vida nova. Esta Palavra não é para ser ouvida passivamente, mas acolhida com humildade e praticada com fervor. É nela que encontramos a expressão máxima do amor de Deus, que nos chama a viver em comunhão com Ele e com os irmãos, sempre na busca da justiça e da caridade.

Neste Domingo, somos chamados a uma reflexão profunda sobre como vivemos nossa fé. A Lei de Deus é um presente, um sinal de Seu cuidado e desejo de nos conduzir à plenitude da Vida. Porém, devemos ir além da superfície, buscando uma comunhão verdadeira com Deus, onde a Lei se traduz em amor vivido e compartilhado. Que estejamos sempre dispostos a ouvir, acolher e praticar a Palavra que nos foi dada, permitindo que ela transforme nossos corações e nos faça verdadeiros discípulos de Cristo.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Não acrescentes nada ao que Deus te diz, mas guarda em teu
coração os mandamentos do Senhor, pois neles encontrarás
o verdadeiro caminho para a vida plena e abençoada.

1 Moisés falou ao povo, dizendo:
“Agora, Israel, ouve as leis e os decretos
que eu vos ensino a cumprir,
para que, fazendo-o, vivais
e entreis na posse da terra prometida
pelo Senhor Deus de vossos pais.
2 Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo,
mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus
que vos prescrevo.
6 Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática,
porque neles está vossa sabedoria
e inteligência perante os povos,
para que, ouvindo todas estas leis, digam:
‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!’
7 Pois, qual é a grande nação
cujos deuses lhe são tão próximos
como o Senhor nosso Deus,
sempre que o invocamos?
8 E que nação haverá tão grande
que tenha leis e decretos tão justos,
como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?”
Palavra do Senhor.

Senhor, quem poderá habitar em Tua casa e encontrar morada no
Teu santo monte?
Aquele que vive com integridade e caminha
na Tua verdade, encontrará refúgio em Tua presença.

R. Senhor, quem morará em vossa casa
e no vosso monte santo, habitará?

2 É aquele que caminha sem pecado*
e pratica a justiça fielmente; 3a  que pensa a verdade no seu íntimo *
b e não solta em calúnias sua língua. R.

c Que em nada prejudica o seu irmão,*
d  nem cobre de insultos seu vizinho;
4a que não dá valor algum ao homem ímpio,*
b mas honra os que respeitam o Senhor. R.

5 Não empresta o seu dinheiro com usura, †
nem se deixa subornar contra o inocente.*
Jamais vacilará quem vive assim! R.

Seja a Palavra viva em teus atos; não apenas a escute, mas pratique-a
com fervor, pois é através dela que transformamos o mundo
e nos tornamos verdadeiros discípulos de Cristo.

Irmãos bem-amados:
17 Todo dom precioso
e toda dádiva perfeita vêm do alto;
descem do Pai das luzes,
no qual não há mudança, nem sombra de variação.
18 De livre vontade ele nos gerou,
pela Palavra da verdade,
a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas.
21b Recebei com humildade
a Palavra que em vós foi implantada,
e que é capaz de salvar as vossas almas.
22 Todavia, sede praticantes da Palavra
e não meros ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos.
27 Com efeito, a religião pura e sem mancha
diante de Deus Pai, é esta:
assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações
e não se deixar contaminar pelo mundo.
Palavra do Senhor.

Abandonar o mandamento de Deus para seguir tradições humanas é afastar-se da verdadeira essência da fé; que nossos corações se voltem sempre ao que é divino, para vivermos em plena comunhão com o Criador.

Naquele tempo,
1 os fariseus e alguns mestres da Lei
vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus.
2 Eles viam que alguns dos seus discípulos
comiam o pão com as mãos impuras,
isto é, sem as terem lavado.
3 Com efeito, os fariseus e todos os judeus
só comem depois de lavar bem as mãos,
seguindo a tradição recebida dos antigos.
4 Ao voltar da praça,
eles não comem sem tomar banho.
E seguem muitos outros costumes
que receberam por tradição: 
a maneira certa de lavar
copos, jarras e vasilhas de cobre.
5 Os fariseus e os mestres da Lei
perguntaram então a Jesus:
“Por que os teus discípulos
não seguem a tradição dos antigos,
mas comem o pão sem lavar as mãos?”
6 Jesus respondeu:
“Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas,
como está escrito:
‘Este povo me honra com os lábios,
mas seu coração está longe de mim.
7 De nada adianta o culto que me prestam,
pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’.
8 Vós abandonais o mandamento de Deus
para seguir a tradição dos homens”.
14 Em seguida, 
Jesus chamou a multidão para perto de si e disse:
“Escutai todos e compreendei:
15 o que torna impuro o homem
não é o que entra nele vindo de fora,
mas o que sai do seu interior.
21 Pois é de dentro do coração humano 
que saem as más intenções, 
imoralidades, roubos, assassínios,
22 adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes,
devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo.
23 Todas estas coisas más saem de dentro,
e são elas que tornam impuro o homem”.
Palavra da Salvação.

Homilia

DISTINGUIR O BEM DO MAL: relativismo ou absolutismo moral?

Distinguir o bem do mal não é tão fácil. Cada geração tem sua própria sensibilidade ética e moral. O bem e o mal são tão misteriosos que nenhuma geração será capaz de captar todo o seu mistério. Alguns falam pejorativamente do “relativismo moral”. Outros se vangloriam de seu “absolutismo moral”. O QUE NOS DIZ HOJE A LITURGIA? Essa é a chave!

Dividirei esta homilia em três partes:

  • Os mandamentos de nosso Deus – Esta parte explorará os mandamentos divinos como base para a moralidade, destacando a importância de seguir os ensinamentos de Deus para viver uma vida justa e virtuosa.

  • “Aprendei de mim” os conselhos do Mestre – Aqui, serão apresentados os ensinamentos de Jesus, que servem como guia para a conduta moral e ética. Jesus, como Mestre, oferece conselhos valiosos para enfrentar os dilemas morais da vida.

  • O que é o “mau” segundo Jesus – Finalmente, esta seção discutirá o que Jesus considera como ações e comportamentos maus, ajudando os fiéis a evitar o pecado e a viver de acordo com os princípios cristãos.

Ao refletir sobre esses pontos, somos convidados a aprofundar nosso entendimento do bem e do mal, e a buscar uma vida alinhada com os ensinamentos divinos. A liturgia nos oferece uma chave para navegar pelos complexos dilemas morais de nossa época, guiando-nos com sabedoria e compaixão.

OS MANDAMENTOS DE NOSSO DEUS

Na leitura do livro do Deuteronômio, somos lembrados do cuidado zeloso de Deus, que nos guia com normas sábias. Se nos apoiarmos n’Ele, “viveremos e entraremos para tomar posse da terra que o Senhor, Deus de nossos pais, nos dará”. A promessa de vida e prosperidade é mais que um benefício material; é uma oferta de plenitude que vem ao seguirmos o caminho de Deus.

As ordens de Deus não nos oprimem nem privam nossa liberdade; elas nos libertam do que impede nossa verdadeira felicidade. Deus não deseja que sejamos escravos, mas coloca-se ao nosso lado, pronto a nos servir e aconselhar para o nosso bem. Suas promessas vão além do que podemos ver, estendendo-se ao que ainda não imaginamos.

Os mandamentos do Senhor são justos e trazem alegria ao coração. Não são fardos, mas guias que conduzem à liberdade. Seguindo essas diretrizes divinas, não apenas caminhamos em direção à terra prometida, mas nos aproximamos do propósito que Deus tem para nós: uma vida de abundância, paz e alegria. Ao nos comprometermos com as leis de Deus, encontramos não só um caminho seguro, mas uma fonte de alegria que ilumina nosso caminho.

Essa mensagem nos convida a ver as orientações divinas como oportunidades de crescimento. Ao abraçar os mandamentos do Senhor com confiança e amor, permitimos que Ele transforme nossos corações e nos conduza a uma vida plena e significativa, caminhando lado a lado com Deus.

APRENDEI DE MIM” OS CONSELHOS DO MESTRE

Jesus se apresenta no Evangelho como o Mestre por excelência: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Diferente de mestres que impõem fardos pesados, Jesus nos convida a segui-Lo, oferecendo conselhos que facilitam o que pode parecer inalcançável. Sua sabedoria não se baseia em mandatos rígidos, mas em conselhos evangélicos que trazem liberdade e vida.

Dentro da Igreja, devemos garantir que o magistério de Jesus não seja substituído por ensinos farisaicos. Quando uma “moralidade” parece impossível de viver, devemos nos perguntar se essa é realmente a moralidade cristã.

Neste domingo, Jesus critica a imposição de mandamentos que não vêm de Deus e que, ao invés de libertar, escravizam. Ele nos convida a revisar nossas normas, tanto externas quanto internas, para ver se estamos seguindo o verdadeiro espírito dos ensinamentos de Cristo ou se estamos presos a regras que distorcem o propósito divino.

Essa mensagem nos chama a refletir sobre nossa prática da fé. Devemos questionar se as normas que seguimos refletem o amor e a misericórdia ensinados por Jesus, ou se estamos presos a tradições humanas que nos afastam do verdadeiro Evangelho. O desafio de Jesus é claro: devemos buscar uma moralidade vivida no cotidiano, acessível a todos, e que nos conduza à liberdade e à plenitude em Deus. Que essa reflexão nos leve a alinhar nosso caminho com o amor e a sabedoria que Cristo nos oferece.

O QUE É O “MAU” SEGUNDO JESUS

Não nos acostumemos a comungar ou a não comungar! Como o centurião, digamos a Jesus: “Senhor, eu não sou digno… mas diga uma só palavra.” Ou, ao Pai Celestial, possamos dizer: “Pai, se for possível, afaste de mim este cálice, este pão eucarístico, mas não se faça a minha vontade, e sim a Tua.”

Quando Jesus falou dessa forma, muitos o abandonaram. Que isso não aconteça entre nós!

Devemos refletir profundamente sobre o significado da comunhão eucarística. A atitude do centurião revela humildade e confiança na palavra de Jesus, reconhecendo nossa indignidade e a grandeza da misericórdia divina. Ao nos aproximarmos da Eucaristia, é essencial fazê-lo com um coração contrito, sabendo que é pela palavra de Jesus e pela vontade de Deus que recebemos a graça.

A oração ao Pai, pedindo que Sua vontade seja feita, reflete uma entrega total e um desejo de alinhar-se ao plano divino, mesmo em dificuldades. Isso nos desafia a ver a comunhão como um momento de encontro e transformação, onde nossas vontades se submetem à de Deus.

Quando muitos abandonaram Jesus ao ouvir suas palavras difíceis, Ele não se acomodou às expectativas humanas, mas manteve a verdade. Somos chamados a não nos desviar da verdade e do compromisso com Cristo, mesmo que exija esforço e mudança de coração.

Que nossa prática da comunhão eucarística seja um reflexo sincero do desejo de nos alinharmos com a vontade de Deus, mantendo nossa fé firme e disposição para seguir Jesus, recebendo Seu corpo e sangue como verdadeiro alimento para a vida eterna.

CONCLUSÃO

Para Jesus, o que é realmente mau vem do coração corrompido: más intenções, roubo, assassinato, adultério, cobiça, mentira, blasfêmia e idolatria. Ele nos ensina que a verdadeira fonte do mal está nas intenções e disposições internas do coração humano. Quando contaminado por desejos ruins, o coração se torna o berço de comportamentos pecaminosos.

Jesus nos chama a examinar não apenas nossas ações, mas também as motivações por trás delas. Cobiça e mentira expressam um coração egoísta, enquanto blasfêmia e idolatria revelam desorientação espiritual. A verdadeira transformação exige uma renovação interna que reflete os princípios de amor, justiça e misericórdia.

Somos desafiados a ir além das aparências e a enfrentar as motivações profundas que moldam nossas ações. Ao buscar a pureza interior, permitimos que a L de Cristo ilumine nossos corações, ajudando-nos a superar as tentações e a viver de maneira que honre a Deus e promova o bem nas nossas vidas e na dos outros.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU