A liturgia do XIX Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre a incessante e gratuita oferta de Vida abundante que Deus proporciona aos seus filhos. Este dom, revelado ao longo da história da salvação, encontra seu ápice na encarnação de Jesus, que nos trouxe o “pão” de Deus.
Na Primeira Leitura (1Rs 19,4-8), contemplamos a fidelidade de Deus ao profeta Elias, perseguido pela rainha Jezabel. Em meio ao desespero e cansaço, Deus, com infinito cuidado, oferece-lhe “pão cozido sobre pedras quentes” e uma “bilha de água”. Esse gesto simples, mas profundamente significativo, revela a solicitude divina, o amor e a bondade que nunca falham. O alimento celestial reanima Elias, restaurando suas forças e inspirando-o a continuar sua missão com renovado entusiasmo.
No Evangelho (Jo 6,41-51), Jesus se apresenta como o “pão vivo” que desceu do céu para dar Vida a todos. Este “pão” divino é a verdadeira fonte de Vida eterna, disponível àqueles que acreditam. Acreditar em Jesus significa mais do que um simples assentimento intelectual; é um convite a aderir integralmente a Ele, acolher suas propostas, abraçar seu projeto de amor e seguir seu exemplo de entrega total a Deus e ao próximo.
A Segunda Leitura (Ef 4,30-5,2) nos ilumina sobre as transformações que a adesão a Jesus, o “pão” da vida, opera em nós. Quem crê em Jesus e aceita seu chamado torna-se uma nova criatura, renunciando ao egoísmo e ao pecado. Esse Homem Novo vive no amor, imitando Cristo, cuja vida foi um contínuo ato de amor e sacrifício em prol da humanidade.
Assim, a liturgia nos convida a contemplar e a nos envolver profundamente com o mistério da Vida que Deus nos oferece. Que possamos, inspirados pelo exemplo de Elias e pelo ensinamento de Jesus, renovar nossa fé, acolher o dom divino do “pão vivo” e viver de acordo com o amor que Cristo nos mostrou, tornando-nos verdadeiramente novas criaturas.
Leituras
Com a força do alimento celestial, Elias percorreu o caminho até o monte de Deus, inspirando-nos a buscar sustento divino para enfrentar as jornadas de nossa vida.
e pediu para si a morte, dizendo:
“Agora basta, Senhor! Tira a minha vida,
pois não sou melhor que meus pais”.
“Levanta-te e come!”
Comeu, bebeu e tornou a dormir
“Levanta-te e come!
Ainda tens um caminho longo a percorrer”.
andou quarenta dias e quarenta noites,
até chegar ao Horeb, o monte de Deus.
Palavra do Senhor.
Experimente e veja como o Senhor é bondoso, inspirando-nos a contemplar sua doçura e graça em cada momento de nossas vidas.
R. Provai e vede quão suave é o Senhor!
2 Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, *
seu louvor estará sempre em minha boca.
3 Minha alma se gloria no Senhor; *
que ouçam os humildes e se alegrem! R.
4 Comigo engrandecei ao Senhor Deus, *
exaltemos todos juntos o seu nome!
5 Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, *
e de todos os temores me livrou. R.
6 Contemplai a sua face e alegrai-vos, *
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
7 Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, *
e o Senhor o libertou de toda angústia. R.
8 O anjo do Senhor vem acampar *
ao redor dos que o temem, e os salva.
9 Provai e vede quão suave é o Senhor! *
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio! R.
Vivei no amor, seguindo o exemplo de Cristo, e transformai o mundo ao redor com gestos de bondade e compaixão.
para o dia da libertação.
como toda espécie de maldade.
perdoai-vos mutuamente,
como Deus vos perdoou por meio de Cristo.
em oblação e sacrifício de suave odor.
Palavra do Senhor.
Eu sou o pão que desceu do céu, trazendo a verdadeira Vida; deixemos que esta mensagem inspire nosso dia a dia, alimentando nossa alma com fé e esperança.
“Eu sou o pão que desceu do céu”.
Não conhecemos seu pai e sua mãe?
Como então pode dizer que desceu do céu?”
E eu o ressuscitarei no último dia.
e por ele foi instruído, vem a mim.
E o pão que eu darei
é a minha carne dada para a vida do mundo”.
Homilia
ALÉM DA EXPOSIÇÃO DO SANTÍSSIMO: A EXPOSIÇÃO DA PALAVRA!
Quando nos sentimos fracos e deprimidos, precisamos de mais do que medicina; necessitamos também da Palavra e do diálogo. Nos próximos domingos, iniciaremos a reflexão sobre o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida. Hoje, dividimos a homilia em três partes:
A Depressão do Profeta: Até mesmo os grandes profetas enfrentam tristeza e desânimo. Esses momentos de fraqueza são humanos e nos lembram da importância de reconhecer nossas vulnerabilidades e buscar ajuda para renovação.
O Pão da Vida, Nosso Antídoto: Jesus nos oferece o Pão da Vida como sustento espiritual. Este alimento fortalece nossa alma e nos dá a energia necessária para superar as dificuldades e encontrar esperança.
A Palavra é Pão da Vida: A Palavra de Deus é um verdadeiro pão que nos alimenta com sabedoria e consolo. Através da meditação das Escrituras e do diálogo sincero, encontramos cura e fortalecimento, compartilhando esse pão em comunidade.
A DEPRESSÃO DO PROFETA
Elias foi um dos grandes profetas de Israel, conhecido como o “profeta do fogo” devido à sua fervorosa dedicação e aos seus poderosos atos de fé. No entanto, mesmo esse profeta extraordinário não foi imune à depressão e ao desencanto. Em um momento de profunda desolação, Elias chegou a pedir a Deus que encerrasse sua vida, tal era o peso de seu sofrimento e desânimo.
Mas Deus, em Sua infinita sabedoria e misericórdia, ofereceu a Elias uma nova perspectiva. Em vez de deixá-lo na escuridão de sua tristeza, Deus providenciou alimento e água para restaurar suas forças. E, mais importante ainda, Deus lhe deu uma missão: caminhar em direção ao “monte de Deus”.
Este chamado divino para o monte simboliza um convite para transcender as dificuldades momentâneas e buscar um encontro mais profundo com Deus. O “monte de Deus” representa um espaço de renovação espiritual e encontro com o sagrado. Assim, mesmo nas horas mais sombrias, Deus nos convida a levantar a cabeça, renovar nossas forças e seguir em direção a um horizonte de esperança e revelação.
Ao refletirmos sobre a jornada de Elias, somos lembrados de que a depressão e o desencanto são experiências humanas universais, e até mesmo os mais fervorosos servos de Deus podem enfrentá-las. No entanto, é através do sustento espiritual que recebemos de Deus e da jornada em direção a um encontro mais profundo com Ele que encontramos renovação e propósito. Deus nos chama, assim como chamou Elias, para caminhar em direção ao nosso próprio “monte de Deus“, onde encontraremos a força necessária para enfrentar nossas lutas e experimentar a transformação que só Ele pode proporcionar.
O PÃO DA VIDA, NOSSO ANTÍDOTO
Há momentos em que, assim como o profeta Elias, nós também mergulhamos em um estado de depressão, onde o caminho da vida parece insuportável. Nesses momentos de fragilidade, a Igreja nos oferece um antídoto poderoso: a Eucaristia, que é descrita como o “Pão do Caminho”, o “Pão da Vida” ou o “Pão do Céu”.
O Evangelho de João dedica seu capítulo sexto a um longo e profundo discurso de Jesus sobre a Eucaristia. Este domingo e os seguintes são uma oportunidade para ouvirmos e internalizarmos essa mensagem essencial. Jesus nos revela que Ele é o Pão que desceu do Céu, oferecendo-nos não apenas o sustento físico, mas um alimento espiritual essencial.
Para Jesus, o pão não é apenas o “pão eucarístico” que compartilhamos durante a missa. Ele também é o “pão da Palavra”, um alimento que nutre nossa alma e nos dá direção e propósito. A Palavra de Deus é vital para a nossa vida espiritual, assim como o pão é para o nosso sustento físico.
Assim, ao participarmos da Eucaristia e ao meditarmos nas Escrituras, somos alimentados de forma integral. Jesus nos convida a encontrar nele a força e a esperança necessárias para superar nossas dificuldades. A Eucaristia nos sustenta em nossa jornada, enquanto a Palavra de Deus nos guia e ilumina. Em cada pedaço de pão e em cada verso das Escrituras, encontramos o sustento que precisamos para transformar nossas vidas e enfrentar os desafios com renovada fé e coragem.
A PALAVRA É PÃO DA VIDA
Neste domingo, Jesus nos convida a participar da “Mesa da Palavra”. Hoje, ouvimos a primeira parte de Seu discurso sobre o Pão que desceu do céu, um Pão que carrega o selo de Deus e é também o Pão da Palavra. A Palavra de Deus nos alimenta quando a assimilamos profundamente, ensina e orienta nossas vidas.
Para que a Palavra tenha um impacto real, deve ser acolhida lentamente, permitindo que ressoe em nosso coração e se apodere de nosso interior de forma gradual. Jesus expressou isso de forma sublime: “Eu vos digo com toda a certeza, quem crê na Palavra tem a vida eterna; eu sou o pão da vida.”
São Jerônimo afirmava que a Palavra de Deus é o “autêntico corpo de Cristo”. Assim como o Pão da Eucaristia, as leituras da missa são um alimento espiritual que deve ser “comido”, refletido e integrado à nossa vida. Muitos cristãos, no entanto, chegam atrasados à missa e não têm a oportunidade de ouvir a Palavra, perdendo assim essa nutrição espiritual.
A homilia, portanto, deveria ser como uma “comunhão espiritual”, promovendo que a Palavra seja profundamente interiorizada e assimilada no coração de cada um que participa da celebração eucarística. É crucial que façamos da Palavra de Deus uma parte fundamental de nossas vidas, permitindo que ela nos transforme e nos guie em nossa jornada espiritual. Ao acolher e vivenciar a Palavra, encontramos o verdadeiro sustento para nossas almas e o caminho para a vida eterna.
CONCLUSÃO
A liturgia da Palavra é também uma forma de “Exposição Eucarística”. Diante dela, devemos adotar uma atitude de profunda reverência, semelhante à de Maria de Betânia, que escutava atentamente as palavras de Jesus e “escolheu a melhor parte”. Sua absorção e devoção ao ouvir a Palavra refletem a importância de acolhê-la com o mesmo fervor. Da mesma forma, o jovem profeta Jeremias descrevia a Palavra de Deus como um fogo ardente em suas entranhas, uma chama que não apenas iluminava, mas consumia seu ser.
Os leitores da Missa têm a sublime missão de distribuir à Assembleia o Pão da Vida, que é a Palavra de Deus. Eles desempenham um papel essencial ao compartilhar esta fonte de nutrição espiritual com a comunidade. A Palavra proclamada é mais do que um simples discurso; é um alimento vital que sustenta a vida espiritual dos fiéis, aquecendo seus corações e iluminando suas mentes.
Assim, ao ouvirmos as leituras durante a Missa, somos convidados a adotar uma atitude de adoração e abertura. Cada palavra proferida é um convite para nos aproximarmos mais de Deus, permitindo que Sua Palavra nos penetre e nos transforme. A participação ativa na liturgia da Palavra nos ajuda a reconhecer a presença de Deus em nosso meio e a responder com um coração receptivo e fervoroso.
Portanto, ao refletirmos sobre a importância da Palavra de Deus, somos desafiados a escutá-la com a mesma devoção que Maria de Betânia e a permitir que seu poder transformador se manifeste em nossas vidas. A Palavra, como o fogo ardente descrito por Jeremias, deve queimar dentro de nós, renovando nossa fé e guiando nossos passos na jornada espiritual.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRIT
Imagem: FINEARTAMERICA – WELT