II DOMINGO DA QUARESMA (ANO B)

A PALAVRA

No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus convida-nos a dar mais um passo rumo à Páscoa, tanto a de Jesus quanto a nossa. Ela nos revela que é na obediência radical a Deus e na atenta escuta de Jesus que desvendamos o caminho para alcançar a Vida em toda a sua plenitude.

O Evangelho (Mc 9,2-10) relata a transfiguração de Jesus. Marcos, o evangelista, apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à Vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.

Na Primeira Leitura (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18), Abraão é apresentado como o paradigma do crente. Abraão é o homem de fé inabalável, que vive em constante escuta de Deus, que aceita os apelos divinos e responde com total obediência. Essa “entrega” a Deus é fonte de Vida e bênção.

A Segunda Leitura (Rm 8,31b-34) recorda aos crentes que Deus os ama com um amor imenso e eterno. A maior evidência desse amor é Jesus Cristo, o Filho amado de Deus que deu a vida para ensinar à humanidade o caminho da verdadeira vida. Portanto, o cristão não tem motivo para temer e deve encarar a vida com serenidade e esperança. 

Fonte : Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A entrega grandiosa de Abraão, nosso pai, vai além do simples sacrifício. Ele personifica uma fé inabalável, uma obediência constante a Deus que se revela como fonte perene de vida e bênçãos. Abraão não apenas simboliza o ato de sacrificar, mas também ilumina o caminho para uma conexão mais profunda com o divino, inspirando-nos a refletir sobre a verdadeira essência da entrega
e devoção em nossa jornada espiritual.

Naqueles dias,
1 Deus pôs Abraão à prova.
Chamando-o, disse: “Abraão!”
E ele respondeu: “Aqui estou”.
2 E Deus disse:
“Toma teu filho único, Isaac,
a quem tanto amas,
dirige-te à terra de Moriá,
e oferece-o aí em holocausto
sobre um monte que eu te indicar”.
9a Chegados ao lugar indicado por Deus,
Abraão ergueu um altar, colocou a lenha em cima,
amarrou o filho e o pôs sobre a lenha
em cima do altar.
10 Depois, estendeu a mão,
empunhando a faca para sacrificar o filho.
11 E eis que o anjo do Senhor gritou do céu,
dizendo: “Abraão! Abraão!”
Ele respondeu: “Aqui estou!”
12 E o anjo lhe disse:
“Não estendas a mão contra teu filho
e não lhe faças nenhum mal!
Agora sei que temes a Deus,
pois não me recusaste teu filho único”.
13 Abraão, erguendo os olhos,
viu um carneiro
preso num espinheiro pelos chifres; foi buscá-lo
e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho.
15 O anjo do Senhor chamou Abraão,
pela segunda vez, do céu,
16 e lhe disse:
“Juro por mim mesmo — oráculo do Senhor —,
uma vez que agiste deste modo
e não me recusaste teu filho único,
17 eu te abençoarei
e tornarei tão numerosa tua descendência
como as estrelas do céu
e como as areias da praia do mar.
Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos.
18 Por tua descendência serão abençoadas
todas as nações da terra,
porque me obedeceste”.
Palavra do Senhor.

Guardando fé diante das dores, reconheço o Senhor que valoriza profundamente a partida de Seus santos. Sou servo, nascido da serva, liberto por Ele. Ofereço louvor e cumpro promessas nos átrios sagrados da cidade de Sião.”

R. Andarei na presença de Deus,
     junto a ele na terra dos vivos.

10 Guardei a minha fé, mesmo dizendo: *
“É demais o sofrimento em minha vida!”
15 É sentida por demais pelo Senhor *
a morte de seus santos, seus amigos. R.

16 Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, †
vosso servo que nasceu de vossa serva; *
mas me quebrastes os grilhões da escravidão!
17 Por isso oferto um sacrifício de louvor, *
invocando o nome santo do Senhor. R.

18 Vou cumprir minhas promessas ao Senhor *
a presença de seu povo reunido;
19nos átrios da casa do Senhor, *
em teu meio, ó cidade de Sião! R.

Para Paulo, há uma constatação incrível: o amor de Deus por nós é profundo, total e radical, uma chama que nada pode extinguir. Manifestando-se em Jesus Cristo, esse amor transforma nossa existência, capacitando-nos para a vida eterna. Nos momentos de crise e desilusão, a Palavra de Deus ressoa: ‘Não tenhais medo; Deus vos ama’. Essa certeza reside em nosso coração, guiando nossos passos?

Irmãos:
31b Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Deus que não poupou seu próprio filho,
mas o entregou por todos nós,
como não nos daria tudo junto com ele?
33 Quem acusará os escolhidos de Deus?
Deus, que os declara justos?
34 Quem condenará?
Jesus Cristo, que morreu,
mais ainda, que ressuscitou,
e está, à direita de Deus, intercedendo por nós?
Palavra do Senhor.

‘Este é o meu Filho amado. Escutai-o.’ Isso ressoa como uma verdade crucial: precisamos escutar Jesus mais profundamente. Ao absorver Suas palavras e aplicá-las em nossa vida, uma luz nítida se acende. Escutar Jesus cura cegueiras seculares, desfaz preconceitos, supera medos, liberta do desânimo. Perguntemo-nos: a escuta de Jesus está no centro de nossa fé? Nas comunidades cristãs, damos espaço suficiente para ouvir Suas palavras transformadoras?

Naquele tempo,
2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João,
e os levou sozinhos a um lugar à parte
sobre uma alta montanha.
E transfigurou-se diante deles.
3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas
como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar.
4 Apareceram-lhe Elias e Moisés,
e estavam conversando com Jesus.
5 Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:
“Mestre, é bom ficarmos aqui.
Vamos fazer três tendas:
uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
6 Pedro não sabia o que dizer,
pois estavam todos com muito medo.
7 Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra.
E da nuvem saiu uma voz:
“Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”
8 E, de repente, olhando em volta,
não viram mais ninguém,
a não ser somente Jesus com eles.
9 Ao descerem da montanha,
Jesus ordenou que não contassem a ninguém
o que tinham visto,
até que o Filho do Homem
tivesse ressuscitado dos mortos.
10 Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si
o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.
Palavra da Salvação.

Homilia

Na Quaresma, deixemo-nos transfigurar pela luz do Evangelho

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Vivemos em tempos desafiadores, em uma sociedade marcada pela divisão, pela incerteza e pela busca constante por respostas diante de tantos dilemas. Neste II Domingo da Quaresma, somos convidados a subir ao monte com Jesus não apenas como indivíduos, mas como uma comunidade que enfrenta os desafios contemporâneos com coragem e esperança.

A história de Abraão e Isaac, no livro do Gênesis, ecoa em nossos dias. Muitas vezes, sentimos a pressão de sacrificar valores fundamentais em nome de interesses pessoais, políticos ou ideológicos. A fé de Abraão nos lembra que, mesmo diante das divisões e conflitos, nossa confiança deve permanecer em Deus, que nos chama a construir uma sociedade baseada na justiça, na compaixão e no respeito pela dignidade humana.

A Transfiguração de Jesus nos convida a buscar uma visão mais elevada, uma perspectiva que ultrapasse as barreiras impostas pelas divisões sociais, econômicas e culturais. Assim como Pedro, Tiago e João foram testemunhas da glória de Cristo, somos chamados a ser testemunhas da presença divina em nosso meio. Em um mundo fragmentado, a construção de “tendas” representa a necessidade de estabelecermos espaços de encontro, diálogo e compreensão mútua, onde as diferenças sejam respeitadas e a luz do Evangelho possa iluminar os corações endurecidos.

A carta de São Paulo aos Romanos destaca que nada pode nos separar do amor de Cristo. Num cenário de polarização e antagonismos, somos desafiados a viver o Evangelho como um antídoto para a hostilidade e a desconfiança que permeiam nossa sociedade. A mensagem de Paulo é clara: o amor divino supera todas as barreiras. A Quaresma nos convida a refletir sobre como podemos ser agentes de reconciliação, construindo pontes em vez de muros, promovendo a justiça e a solidariedade em meio às divisões que nos cercam.

Assim, neste II Domingo da Quaresma, somos chamados a uma transformação mais profunda, não apenas individualmente, mas como uma comunidade unida na diversidade. Que a luz da Transfiguração dissipe as trevas da desconfiança e do ódio, e que, ao descermos do monte da Quaresma, possamos ser portadores de esperança, construtores de paz e testemunhas do amor que transcende todas as divisões.

Que o Senhor, que nos guia nesta jornada quaresmal, nos conceda a graça de sermos instrumentos de reconciliação e construtores de uma sociedade mais justa e fraterna. Amém.